“Sócrates previa privatização da água há 11 anos”

20 de maio 2011 - 2:35

No comício em Lisboa, esta quinta-feira, onde também intervieram a estudante Isabel Pires e o activista dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual Bruno Cabral, Francisco Louçã frisou a ideia de que “esta é a hora da decisão” e criticou a intenção de Sócrates e Passos Coelho de privatização das Águas de Portugal.

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A estudante universitária Isabel Pires interveio “em nome dos estudantes do ensino superior e dos futuros precários”. Foto de Paulete Matos.

Referindo-se não só á troika mas também ao Governo e aos partidos que se comprometeram com o acordo, Francisco Louçã afirmou que estes para além de quererem promover a destruição da Segurança Social, estando os patrões a pedir uma redução para metade das suas contribuições sociais, “estão já a pensar numa segunda vaga de privatizações”.

Invocando a proposta do PSD de privatização das Águas de Portugal, Louçã disse que se tal acontecesse, Portugal seria o único país da Europa a privatizar este serviço, com a excepção da Inglaterra, onde os custos subiram 46 por cento após a privatização.

Francisco Louçã denunciou ainda que José Sócrates já previa a privatização da água há 11 anos atrás, tendo preparado um memorando com o ministro da altura para fazer entrar uma empresa de capitais maioritariamente privados, a EDP, “mais um monopólio público que foi entretanto privatizado”, num terço das Água de Portugal, e começar assim o processo de privatização. “Mais depressa se apanha um privatizador do que um mentiroso”, disse, referindo-se a Sócrates.

“Esta é a hora da decisão"

Lembrando que estamos a duas semanas do momento da decisão eleitoral, Francisco Louçã apontou, no comício em Lisboa, que as sondagens indicam que o maior partido representado é o dos indecisos que correspondem a 40% e que, por isso, está na hora de “convocar a decisão”. “Vivemos um tempo de decisões importantes que é também o tempo da vertigem da mudança”, disse.

A decisão é sobre o futuro, explicou o dirigente do Bloco, sublinhando a contradição dos números da economia anunciados pelo Banco de Portugal (BdP). “Ao mesmo tempo que o Banco de Portugal afirma que as medidas da troika são indispensáveis e as correctas, projecta um resultado que é o prior desastre da economia portuguesa em 37 anos de democracia”. Louçã explicou que a recessão prevista para daqui a 2 anos pelo BdP não tem precedentes e será potencialmente maior no futuro. Além disso, com as autorizações concedidas aos bancos pelo BdP, como as alterações aos spreads no crédito à habitação, “as famílias perderão 2 a 3 por cento dos seus rendimentos”, estimou. Aliás, as pessoas terão de trabalhar “mais 1 dia por cada mês para pagar as suas contas”, disse, considerando os cortes na saúde, na educação, os novos impostos.

Insistindo na ideia da “decisão”, o Bloco reafirma a sua proposta de renegociação da dívida pública porque quer “contas certas parta proteger salários e pensões, e combater os juros extorsionários”, disse Francisco Louçã. Contudo, “é preciso afastarmo-nos das más companhias”, disse, referindo-se aos que agora têm vindo a falar sobre esta proposta, como Pedro Santana Lopes, embora com outros objectivos.

O dirigente do Bloco apontou duas razões para a escolha da proposta do Bloco que “protege a economia e traz para a decisão o que é fundamental”.

A primeira é lembrar que Portugal já teve a “ajuda” do FMI no passado, há 28 anos atrás, tendo entrado em recessão no período que se seguiu. Louçã lembrou os salários que caíram 15 por cento, os trabalhadores que perderam mais de um mês de salário e os que receberam o subsídio de Natal em certificados de aforro. “Todos os trabalhadores perderam”, frisou.

A Agricultura também se ressentiu - “Década, após década a sua capacidade de produzir e criar emprego diminuiu”, disse Louçã indicando que se perderam no sector 400 mil trabalhadores e 1 em cada 4 propriedades desapareceram.

“Serviu para quê?”, perguntou Louçã. “Não serviu para proteger a justiça, nem para desenvolver a economia, nem para criar modernidade, nem para criar respostas de solidariedade”, afirmou.

A segunda razão “é que não se pode combater a bancarrota promovendo a bancarrota”. Francisco Louçã referiu o apoio de Passos Coelho e Paulo Portas às medidas da troika que são “o velho sonho da direita”, aquilo que “nunca tiveram a coragem de propor”, como a redução das pensões, o despedimento por inadaptação, a redução do subsídio de desemprego, as privatizações. O resultado desta política, diz Louçã, serão mais 150 mil desempregados, “aproximamo-nos do milhão de desempregados”. 

No comício do Bloco interveio também a estudante universitária Isabel Pires “em nome dos estudantes do ensino superior e dos futuros precários”. Afirmando que é necessário contrariar o discurso do “tem de ser” e da privatização do ensino, teceu críticas ao processo de Bolonha que transformou as faculdades em fábricas de precários, e ao regime das propinas que as torna “um filtro social” por causa do acesso não ser igualitário.

Já Bruno Cabral, cineasta intermitente, falou do seu sector, onde, disse, quase ninguém sabe o que é ter um contrato, pois nas artes do espectáculo e do audiovisual imperam os falsos recibos verdes. Mas “só um contrato de trabalho assegura direitos, protecção social e contribuições sociais justas”, defendeu. Bruno Cabral referiu também que a possibilidade de atribuição de subsídio de desemprego aos recibos verdes prevista no acordo da troika é uma hipocrisia e o “reconhecimento de uma ilegalidade”.

 

Imagem do rotator
“Sócrates já previa a privatização da água há 11 anos atrás”