Quais são as suas previsões para este domingo?
Em primeiro lugar, creio que estamos numa situação muito positiva hoje na Grécia, porque o povo grego vai tomar a decisão crucial de rejeitar o medo, de não se deixar intimidar por ninguém. Creio que o povo grego está bem preparado para lidar com a situação, de forma a poder tomar conta do seu próprio futuro.
Nos últimos três anos, o pensamento da maioria do povo grego mudou muito. Quais foram, na sua opinião, as causas dessa mudança?
No decorrer destes últimos anos, houve alguns pontos fundamentais que mudaram a mentalidade do povo grego. O primeiro foi ter de enfrentar o dilema que lhe tentaram impor: diziam que se o povo não atuasse como eles queriam, o chamado programa de assistência seria cortado e o povo morreria, social e economicamente falando. O povo ficaria sem ajuda e era certo não teria saída da crise, diziam. Esta era o dilema que impunham a cada dois ou três meses, quando chegavam os representantes da troika para monitorizar em Atenas a aplicação do Memorando. E o governo, para implementar estas medidas, tentava intimidar as pessoas. Mas o povo manifestava-se contra, reagia. E esta reação foi o ponto fundamental que realmente mudou a mentalidade das pessoas. Porque o povo viu que o governo agia contra os seus interesses, em primeiro lugar; e, em segundo lugar, o governo não permitia que o povo se exprimisse de forma livre. Em vez disso, o governo escondia-se atrás do Parlamento e mandava a polícia de choque para atacar os manifestantes pacíficos.
Nesta altura, por volta de outubro de 2011 em diante, houve uma tendência irreversível das pessoas para procurar novas soluções. E estas apareceram nas eleições de maio. Este foi o outro ponto desta mudança.
Que conselho daria ao povo português, que passa por uma situação semelhante à do grego?
O povo português é suficientemente sábio para não aceitar conselhos... Eu diria para olhar em volta, e perceber se a situação em que vive é boa. Parece-me que não. O que se vê é miséria, desemprego, ausência de futuro. Aqui, também, o governo diz aos jovens para abandonarem o país e não dá quaisquer perspetivas à economia, ou à sociedade. Acho que o povo português não tem mais nada a perder. E é um momento positivo para agir, porque ninguém pode esconder-se neste contexto de crise. A questão chave é estar preparado para combater a crise. Porque só com a luta se encontrará uma saída democrática deste imbróglio.