A audição de Nuno Santos segue-se à do presidente da empresa, Alberto da Ponte, que disse na terça-feira aos deputados que Nuno Santos teria autorizado o visionamento por parte de agentes policiais das imagens da manifestação de 14 de novembro que não chegaram a ser emitidas.
Ouvido esta quarta-feira, Nuno Santos mantém a sua versão de que não deu essa autorização. "Houve uma chamada de uma produtora que se dirigiu de maneira informal a um conjunto de pessoas todas elas membros da direção. Não se tratou de nenhuma decisão formal ou autorização expressa", afirmou o ex-diretor de informação do canal público de televisão, referindo que o propósito do visionamento seria esclarecer um incidente que danificou uma das viaturas de serviço da RTP em São Bento.
Perguntado sobre o que justificava a gravação de várias horas de imagens para esclarecer um incidente isolado, Nuno Santos respondeu apenas que "fazendo uma interpretação a esta distância, posso considerar que alguém quis fazer o que eu classificaria como um servicinho". O jornalista repetiu várias vezes ter "perdido a confiança" em Alberto da Ponte após uma conversa de "três minutos" em que foi alvo de um "julgamento sumário".
Nuno Santos considera que o seu afastamento foi forçado pela administração e ele "não ocorre numa fase qualquer, ocorre numa fase delicada em que se prepara uma alienação" do canal público de tv até ao final deste ano. E diz ter sentido nos últimos meses "um desconforto crescente em alguns sectores do governo pela forma como a RTP tratava certas matérias", como o caso da licenciatura obtida pelo ministro Miguel Relvas.
Memorando interno condiciona liberdade da Direção de Informação da RTP
O ex-diretor de informação revelou ainda que desde o dia 6 de novembro passou a ter de pedir autorização à administração para qualquer despesa, tal como os outros elementos da direção de informação, sob pena de procedimento disciplinar. “Se isto não é condicionar, eu não sei o que é condicionar a liberdade de intervenção de um diretor de Informação”, afirmou.
No fim da audição requerida pelo Bloco, a deputada Cecília Honório anunciou que irá "desenvolver as iniciativas necessárias para o apuramento dos factos, para o esclarecimento cabal da verdade". "Não vamos pactuar com este regabofe", concluiu.
No plenário da Assembleia da República, a coordenadora bloquista Catarina Martins trouxe o assunto ao debate através duma declaração política. "Ficou hoje claro que quem não agradar ao Ministro Relvas, leva. E não vale a pena o governo esconder-se por detrás de eficientes capatazes", considerou a deputada. Catarina Martins considera que após o memorando interno de 6 de novembro, "a direção de informação ficou sem autoridade e independência absoluta para decidir que notícias eram para colocar no ar".
"A gravidade extrema desta situação não pode ser ignorada, sob pena de aceitarmos e naturalizarmos toda e qualquer limitação à democracia e à liberdade de imprensa", acrescentou Catarina Martins.