Violência doméstica aumenta e queixas diminuem

23 de novembro 2012 - 17:03

Até setembro de 2012 a UMAR contabilizou o assassinato de 33 mulheres por violência doméstica, mais seis do que em todo o ano de 2011. No entanto, o número de queixas diminuiu 10,9% em relação a 2010. A violência aumenta, mas as vítimas estão mais vulneráveis pelo medo de represálias e sobretudo devido à crise económica e aos cortes nos apoios.

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“Existe uma conjuntura favorável à não denúncia do crime”, declarou ao “Jornal de Notícias” Elisabete Brasil da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), acentuando que no entanto estão a aumentar os pedidos de apoio. João Lázaro da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) disse ao jornal que há muitas mulheres que se “resignam” por não terem autonomia financeira.

Notemos que os cortes nos apoios sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, aumenta a vulnerabilidade das mulheres e dificulta a sua autonomia para enfrentar o agressor.

Maria José Magalhães, presidente da UMAR, disse à TSF que a organização contabilizou no ano de 2012, até setembro passado, a morte de 31 mulheres e 31 casos de tentativa de homicídio relacionados com casos de violência doméstica. No entanto, o número total de queixas diminuiu face a 2011 e a 2010.

Para Maria José Magalhães, “essa diminuição significa aumento da violência doméstica”, até porque o número destas denúncias não atingiu o número das mulheres que são vítimas deste fenómeno.

“Já estamos no maior número. Vai ser um ano trágico”, salientou Maria José Magalhães em declarações à Antena 1.

“A crise apresenta dois fatores de agravamento do fenómeno da violência doméstica: por um lado, o agravamento da severidade dos atos, das agressões, e o aumento da frequência. Por outro, a falta de esperança das vítimas nesta situação. As vítimas não acreditam que possam reconstruir as suas vidas”, frisa a presidente da UMAR à Antena Um.

“Nós podemos ver que a diminuição das denúncias significa o aumento destes casos mais graves e letais de tentativas”, diz ainda Maria José Magalhães, sublinhando que a “crise não aumenta a violência doméstica. Quem não era agressor não é com a crise que vai ficar. Há muitas pessoas desempregadas, muitos homens desempregados que não se tornam agressores por causa da crise. Agora o que é fundamental, até pelas condições económicas do país, é uma mudança das políticas sociais”.

Neste fim de semana, tem lugar um conjunto de iniciativas de denúncia e combate à violência doméstica:

sábado, 24 de novembro

A UMAR divulga os dados referentes a 2012 do OMA - Observatório das Mulheres Assassinadas, em Lisboa, no jardim em frente à Maternidade Alfredo da Costa, às 11h.

A Rede 8 de Março promove “Fim de semana pelo fim da violência contra as mulheres” no espaço associativo MOB (Travessa da Queimada, 33, Bairro Alto), com Workshop de Defesa pessoal para mulheres com Sakura Mónica, às 18h e Rita Red Shoes e DJ Miss Sara, às 22.30h.

domingo, 25 de novembro

Marcha pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, às 15 h do Largo Camões ao Martim Moniz em Lisboa. A partir das 17h, Mercado Fusão Martim Moniz, com Orchidaceae Urban Tribal, Teatro O Bando e Dj SoulFlow.