Eric Toussaint

Eric Toussaint

Politólogo. Presidente do Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo

Muita gente vê nos BRICS um contraponto à ordem monetária dominada pelo dólar. No entanto, os factos são irrefutáveis: na cimeira dos BRICS, no Rio de Janeiro, não foi expressa qualquer vontade de romper com a divisa “americana”. A desdolarização está fora do horizonte visível.

Na sua declaração final, os BRICS não exprimem qualquer crítica em relação às políticas neoliberais que FMI e Banco Mundial se esforçam por aplicar. Em momento algum põem em causa as dívidas que as duas instituições reclamam aos países endividados.

Para aqueles e aquelas da esquerda que têm ilusões sobre a vontade dos BRICS de tomar iniciativas claras em favor dos povos, a última cimeira e sua atitude como bloco em relação ao genocídio em Gaza e suas relações com Israel devem contribuir para abrir os seus olhos.

Há 500 anos uma grande revolta camponesa nos principados da Alemanha exigia a anulação das dívidas. A partir daí, revisitam-se os grandes movimentos camponeses que marcaram a história europeia, do Atlântico ao mar Cáspio, do Báltico ao Mediterrâneo e a tradição das anulações de dívida.

A instituição nunca hesitou em apoiar militares putschistas e criminosos, economicamente dóceis, contra governos democráticos. Esta atitude é coerente com o facto deco Banco Mundial considerar que o respeito pelos direitos humanos não faz parte da sua missão.

As posições dos BRICS inscrevem-se perfeitamente no sistema capitalista neoliberal global, nada ou quase nada fazem para se destacarem desse sistema e subscrevem as falsas soluções do capitalismo verde.

Os movimentos sociais e os partidos políticos de esquerda devem retomar a iniciativa com um programa resoluto para romper com o capitalismo e com uma prática que não seja menos resolutamente unitária.

O Banco Mundial produz uma verdadeira ideologia do desenvolvimento. E quando os factos desmentem a teoria, o Banco não questiona a teoria. Pelo contrário, tenta deformar a realidade para continuar a proteger o dogma.

Todas as dívidas reclamadas à Ucrânia devem ser anuladas. O seu governo deveria decretar um imposto de guerra sobre os mais ricos e fazer uma auditoria da dívida com participação civil. Os bens dos oligarcas ucranianos deviam ser expropriados e devolvidos ao povo e os dos russos também, defende Éric Toussaint.

Os avisos emitidos pelo Banco Mundial e pelo FMI são fundamentados, mas a autocrítica está totalmente ausente. Além disso, estas duas instituições não mudam em nada as suas políticas concretas. Artigo de Éric Toussaint.