Desigualdade

900 mil trabalhadores vivem na pobreza absoluta em Portugal

30 de janeiro 2025 - 12:57

O estudo que se refere a 2022 mostra ainda que cerca de 100 mil pessoas vivem em agregados sem o rendimento necessário para pagar a dieta essencial.

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Moedas.
Moedas. Foto de Paulete Matos.

O relatório intercalar “Portugal, Balanço Social 2024”, intitulado “Quem consegue pagar as despesas essenciais? Uma análise da pobreza absoluta em Portugal”, da responsabilidade de uma equipa da “Nova SBE” e com apoio de instituições bancárias privadas, mostra que pelo menos 900 mil pessoas que têm emprego em Portugal vivem numa situação de pobreza absoluta.

Ao todo, revela-se, “cerca de 100 mil pessoas vivem em agregados sem o rendimento necessário para pagar a dieta essencial”, o que corresponde a perto de 1% da população. Esta pobreza absoluta extrema atinge sobretudo crianças (1,9%) e cidadãos estrangeiros (1,3%), estimando-se em 37 mil as crianças que vivem em agregados com rendimentos abaixo do custo da dieta essencial.

Indica-se ainda que os grupos com maior risco de pobreza absoluta são os desempregados (25%) e as famílias com crianças (12,5%).

O estudo mostra igualmente que a pobreza absoluta “é mais comum nas áreas urbanas (8,8%) do que nas áreas rurais (6,9%)”.

Enquanto nos Açores e Madeira há maior risco de pobreza absoluta, situando-se os indicadores em 22,1% e em 15%, na Área Metropolitana de Lisboa a taxa de risco de pobreza relativa supera a de pobreza absoluta, caso único no país, por causa do “elevado custo de vida, especialmente com a habitação”. Mas no ranking da taxa de risco de pobreza absoluta extrema, os Açores vêm em primeiro lugar (1,9%) e a Área Metropolitana de Lisboa logo a seguir (1,4%).

Os autores do estudo sublinham uma diminuição da taxa de risco de pobreza absoluta em Portugal em 17 anos que foi destacada em vários órgãos de comunicação social. Mas esta depende do método de cálculo, ressalvam. Assim, de acordo o método de Orshansky esta taxa diminuiu de 20% em 2005 para 12,6% em 2022. Mas de acordo com o método suplementar houve até um aumento: de 8,2% em 2005 para 8,5% em 2022. Explica-se que o primeiro dos métodos parte do custo do cabaz alimentar apropriado à idade de cada elemento do agregado familiar enquanto que o segundo parte dos montantes de um conjunto de despesas essenciais como a habitação, a água, a energia, a alimentação entre outras. Todos os números apresentados sobre as taxas de riqueza diferem assim de método para método.

À Renascença, a coordenadora do estudo, Susana Peralta, considera que “por muitos ganhos que tenhamos tido recentemente no combate à pobreza, a verdade é que continua a haver situações de enorme privação neste país e devemos sempre lutar por uma economia mais inclusiva”. Sobre os estrangeiros estarem entre os mais pobres diz que não estranha porque “sabemos que estrangeiros residentes em Portugal têm uma relação com o mercado de trabalho mais precária e estão a trabalhar em setores, em média, com salários mais baixos”.