Habitação

Câmara de Loures despeja dezenas de famílias do bairro do Talude

30 de junho 2025 - 16:15

Dezenas de famílias do bairro do Talude Militar, incluindo nove crianças e quatro idosos, viram as suas habitações precárias destruídas pelos bulldozers sem terem alternativa habitacional.

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Demolições no bairro do Talude Militar, em Loures
Demolições no bairro do Talude Militar, em Loures. Imagem SIC

A Câmara Municipal de Loures, liderada pelo socialista Ricardo Leão, cumpriu esta segunda-feira a ameaça de demolição de 36 casas no bairro do Talude Militar. Estas 36 famílias, incluindo nove crianças e quatro idosos, ficaram sem teto e sem alternativa para morar. Muitos dos habitantes são trabalhadores a quem o salário não chega para pagar uma habitação digna.

Em declarações à SIC, Engels Amaral, um dos representantes destes moradores, contou que a Câmara notificou-os através de editais afixados nas portas na sexta-feira às 20h, dando 48 horas para desocupar as habitações. Isto apesar de a autarquia ter conhecimento da existência de uma providência cautelar interposta, a Câmara tem conhecimento mas diz que não foi notificada pelos tribunais.

“Estas pessoas não têm alternativa habitacional, caso contrário não estariam cá”, afirmou Engels Amaral, relatando que “a Câmara não faz acompanhamento, não manda assistentes sociais, as famílias não sabem para onde vão, só sabem que ficaram sem teto e não têm para onde ir”. Durante as demolições, houve apenas a presença de agentes policiais no bairro. Os moradores manifestam-se durante a tarde junto ao edifício da autarquia para exigir uma alternativa.

O movimento Vida Justa tem acompanhado a situação destes moradores e acusa o autarca Ricardo Leão de ter “adotado uma política de direcionamento de famílias inteiras à pobreza extrema”, seja na habitação social, seja em “autoconstrução precária, fruto do inacessível mercado da habitação que tem levado cada vez mais pessoas a esta situação”.

Para o movimento, a ausência de respostas sociais mostra que existe uma “intenção política de não querer fazer um acompanhamento de proximidade e uma tentativa de substituição forçada de moradores dos bairros municipais às custas de famílias inteiras que assim se tornam em novos sem abrigos”. O Vida Justa acusa ainda Ricardo Leão de ter utilizado as 1.000 pessoas que estão em lista de espera para habitação municipal “como arma de arremesso para justificar estes despejos desumanos”.

“Enquanto isso, o executivo abandonou a Estratégia Local de Habitação, que previa a construção de 850 fogos, tendo substituído esse plano pela aquisição de 250 fogos ao abrigo do PRR. Até ao dia de hoje não adquiriu nenhum”, aponta o movimento.