Da ascensão de personalidades e partidos políticos ultraconservadores representantes de uma agenda de ataque aos direitos conquistados pelos movimentos LGBTQI+, ao imperialismo do estado de Israel e o pinkwashing que tenta encobrir o massacre do povo da Palestina, as lutas em torno da identidade e expressão de género, orientação sexual e características sexuais são centrais para se compreender a atualidade política em todo o globo. Também em Portugal se assiste ao recrudescimento do discurso de ódio dirigido às chamadas minorias sexuais e de género. No entanto, esta onda de conservadorismo confronta-se com a resistência dos movimentos organizados da sociedade civil.
Em Portugal, cada vez mais as marchas organizadas por todo o território marcam a agenda política com debates e reivindicações importantes para o movimento LGBTQI+, conjugando a luta pela liberdade e a luta contra as várias formas de opressão e discriminação e impulsionando conquistas de direitos fundamentais para as pessoas queer. Estas têm vindo a aumentar em número significativo por todo o país, sendo cada vez mais festivas e combativas e funcionando como um momento de transformação, afirmação política e encontro no espaço público.
Contudo, o caráter político e contestatório do Orgulho LGBTQI+, que está na gênese dos distúrbios de StoneWall, confronta-se com a crescente apropriação das bandeiras de luta queer pelas forças do mercado. Assim, é necessário o combate à lógica liberal e mercantilista que se tenta apropriar dos nossos espaços, e tal passa pela construção coletiva de um movimento anticapitalista e emancipatório, que se articule às demais lutas por justiça social (como o feminismo e o antirracismo, por exemplo) e represente e incluia todas as pessoas de todo o planeta. O mercado nunca é democrático e nele encontramos fronteiras de classe, pois o neoliberalismo cria uma política individualista como se apenas o pessoal fosse político, mas tal ideia apenas dificulta a construção coletiva que seja verdadeiramente transformadora. Para o pensamento neoliberal, a luta acaba com a representatividade, porém não basta apenas a existência de pessoas assumidamente LGBTQI+ em lugares de poder sem existir uma real transformação das relações de poder existentes nesses espaços.
A discriminação e a falta de inclusão não são apenas realidades simbólicas, mas também materiais que operam na forma como as cidades estão organizadas, no acesso ao espaço público, à proteção social, à habitação, ao trabalho, na desigualdade nos espaços da família, na comunidade. Na saúde falta cumprir-se a garantia de cuidados médicos, para todas as pessoas, necessários para a garantia da integridade física e psicológica. Na habitação, a desigualdade é notória nos dados referentes à população sem abrigo, sendo as pessoas trans o grupo com maior probabilidade de não ter uma casa para morar.
Apesar da Constituição da República Portuguesa e da legislação em vigor, Portugal não é exceção à onda ultraconservadora que se faz sentir no resto do mundo, existindo violência e opressão praticada por grupos extremistas que colocam em causa a garantia dos direitos LGBTQI+. Nos últimos meses, temos assistido a episódios de ódio e de ameaças homofóbicas e transfóbicas por parte de grupos como o Habeas Corpus com sucessivas invasões a apresentações de livros e iniciativas queer. Após diversos ataques presenciais, o grupo lança nas suas redes uma “Lista de terroristas LGBTQI+” com o nome e fotografia de ativistas LGBTQI+, que lutam e defendem estes direitos.
Também o pinkwashing não nos é desconhecido. Temos visto nos últimos anos uma crescente apropriação do Movimento LGBTQI+ por parte de empresas, instituições e países que não nos representam nem são impulsionadores dos nossos direitos. As mudanças que reivindicamos são estruturais, implicando uma visão crítica ao capitalismo e ao cisheteropatriarcado que exploram a classe trabalhadora, mulheres, pessoas racializadas migrantes, LGBTQI+ de formas desiguais. Israel faz uso do pinkwashing para ocultar e legitimar os ataques e ofensivas de ocupação colonial sobre o território e povo da Palestina. Israel não irá permitir a libertação da população LGBTQI+ se esta não for acompanhada de um projeto colonialista e genocida. Enquanto ativistas LGBTQI+ lutamos contra esta narrativa e reivindicamos uma Palestina livre do colonialismo, do patriarcado e do pinkwashing.