Espanha

Compra de munições a Israel abre crise no governo espanhol

24 de abril 2025 - 11:28

Depois do anúncio do reforço da despesa militar, o Ministério do Interior espanhol decidiu avançar com um contrato de compra de balas a uma empresa israelita, que tinha cancelado em outubro. Sumar e Izquierda Unida admitem sair do executivo.

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Agente da Guardia Civil em exercício de tiro
Agente da Guardia Civil em exercício de tiro. Foto Ministério do Interior de Espanha/Facebook

A coligação de governo em Espanha está a atravessar uma crise esta semana, depois do PSOE ter avançado com o seu plano de reforço do orçamento militar e de o Ministério do Interior ter alterado a decisão de cancelar a compra de munições a uma empresa israelita, num contrato de cerca de seis milhões de euros. O ministro Fernando Grande Marlaska tinha prometido em outubro que tinha iniciado um processo para rescindir o contrato da compra de 15,3 milhões de balas de 9mm para a Guardia Civil, mas este foi publicado no portal oficial da contratação pública em pleno feriado de sexta-feira santa.

"É uma violação flagrante dos acordos, exigimos a retificação e a comparência do ministro. É uma violação dos acordos quando estamos a assistir a um genocídio em direto", afirmou a segunda vice-presidente do Governo e ministra do Emprego, Yolanda Díaz, em declarações aos meios de comunicação social em Barcelona.

Além das palavras da líder do Sumar, também o líder parlamentar da Izquierda Unida, partido com assento no Governo, veio dizer que não exclui o cenário de abandonar o executivo. Enrique Santiago diz que vai confrontar o PSOE com o caminho que está a seguir e que “abre a crise de Governo mais importante desta legislatura”.

A ministra da Juventude e Infância Sira Rego, que representa a IU no executivo, veio por seu lado anunciar ter enviado uma carta ao seu colega do Interior a exigir o cancelamento do contrato e a abertura de uma auditoria sobre outras eventuais relações com empresas israelitas por parte daquele Ministério. “É inaceitável destinar um único euro para a compra de armamento a um Estado genocida”, afirmou Sira Rego.

A expressão “crise de governo” já tinha sido usada horas antes pelo líder deste partido, Antonio Maíllo, para se referir ao anúncio do Conselho de Ministros de aumentar o orçamento da Defesa em 10,5 mil milhões de euros sem consultar os parceiros de coligação, considerando-o “um ato de irresponsabilidade” de Pedro Sánchez. Mais comedidos nas críticas foram os parceiros da coligação Sumar no Governo, com a ministra da Saúde e representante do Más Madrid, Monica Garcia, a falar de uma “discrepância saudável” com o PSOE e Yolanda Díaz a dizer que o governo não está em risco, sublinhando a oposição à compra de armas mas também o facto de que o aumento não terá impacto na despesa social e 80% da despesa é destinada ao aumento dos salários dos militares e infraestruturas da área da cibersegurança.

Contrato com a IMI Systems não foi o único

A empresa em questão no contrato de compra de munições é a IMI Systems, que desde 2018 pertence à Elbit Systems, uma das maiores fornecedoras de material militar ao exército israelita. O governo espanhol argumenta que manteve o contrato após receber um parecer jurídico a afirmar que “a anulação significaria pagar à empresa sem receber o material contratado, necessário para que a Guardia Civil possa prestar os serviços que tem encomendados”.

Esta quinta-feira soube-se que ainda este mês o Ministério do Interior adjudicou outro contrato, desta vez para a compra de 463 coletes antibalas por cerca de 320 mil euros a outra empresa israelita. Desta vez trata-se da Guardian Homeland, que se apresenta como uma das principais fabricantes israelitas de material militar e policial e é administrada pelo empresário e antigo agente dos serviços de informações israelitas Ilan Arzooan. Esta empresa é representante em Espanha da IMI Systems.

Desde o início do genocídio em Gaza, o governo espanhol fez pelo menos 31 contratos de compra de armamento a empresas de Israel. Dez destes contratos foram formalizados após outubro de 2024, quando o Governo anunciou que essas compras ficariam suspensas.