Mais de cem deputados do Partido Trabalhista britânico anunciaram que estão contra os cortes nas políticas sociais apresentados pelo primeiro-ministro do seu partido, Keir Starmer.
O Governo é acusado pelas suas próprias hostes de insensibilidade social. Em causa estão cortes orçamentais protagonizados pela ministra da Economia e das Finanças, Rachel Reeves, nomeadamente nas baixas médicas, em pensões de invalidez e benefícios sociais.
O objetivo da ministra, para além do sempre invocado equilíbrio orçamental, foi também o de “integrar” mais pessoas no “mercado laboral”. O executivo alega que uma em cada dez pessoas no país recebe atualmente subsídios de invalidez, num total de 800.000 pessoas. Outra prestação para incapacidade física ou mental de longo prazo, PIP, Pagamento de Independência Pessoal, estará, de acordo com o governo, em vias de passar dos dois milhões para os 4,3 milhões de beneficiários no final da década.
As “poupanças” estimadas com os cortes seriam, alega-se, de cerca de 6.000 milhões de euros, a que se somariam os valores do pretenso regresso ao mercado laboral de centenas de milhares de trabalhadores.
Mas são as próprias contas que o governo britânico fez para justificar as medidas que mostram uma realidade diferente do pseudo-otimismo de um regresso em massa ao trabalho sem prejuízos sociais significativos. Estima o executivo que a sua implementação implicaria que mais perto de 250.000 pessoas, entre as quais 50.000 crianças, seriam empurradas para o nível abaixo do limiar da pobreza nos próximos cinco anos.
Ao todo, quatro milhões de pessoas serão afetadas pelo conjunto das medidas.
Foram preocupações sociais com este tipo de repercussões que fizeram a deputada trabalhista Meg Hillier, presidente do Comité de Finanças do Parlamento, apresentar uma proposta de alteração ao projeto de lei do governo, a votar na próxima terça-feira, que apela a uma pausa neste processo legislativo de forma a produzir uma avaliação dos efeitos dos seus custos. Muitos deputados trabalhistas foram-se juntando a esta proposta e atingirão agora perto de 130 dos 403 membros do partido na Câmara dos Comuns.
Não está em causa o avanço da proposta, pois os Conservadores também apoiam os cortes de Starmer. Mas é um sinal da rebelião interna nos Trabalhistas um mês após a derrota do partido nas autárquicas face à extrema-direita.
Anneliese Midgley, deputada que apoia a proposta de adiamento, diz acreditar que “o Governo precisa dar uma volta a isto”, que as propostas são “muito precipitadas” e que “castigam financeiramente os incapacitados e acarretam um risco de expulsar ainda mais pessoas do mercado laboral.
Reino Unido
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Recorde-se que Starmer entrou com ímpeto austeritário e uma das medidas iniciais que tomou foi tentar reduzir as ajudas de que os reformados beneficiam nas contas do gás e da eletricidade durante o Inverno. A contestação levou entretanto ao anúncio de que a medida não será aplicada.
O Governo reagiu primeiro com certeza, depois com hesitação. A partir da Cimeira da NATO, Starmer começou por dizer que se tratava apenas de “ruído de fundo” e que as suas medidas avançariam em nome das “mudanças que prometemos”. Depois, o governo tratou de tentar conter a rebelião com vários ministros “colados ao telefone”, escreve o El País, durante horas. Os telefonemas não conseguiram dissuadir os dissidentes. Mais tarde, o próprio primeiro-ministro confirmou estar em conversações com os deputados rebeldes sobre os cortes e que estas “continuarão nos próximos dias para que possamos começar a fazer mudanças juntos na terça-feira.”