Lisboa

Gabinete de Moedas ajudou a SIC a sacar apoios de 750 mil euros para o “flop” do Festival Tribeca

02 de julho 2025 - 13:24

Festival de cinema resultou em prejuízo e queixas do público, mas permitiu a Moedas ser fotografado ao lado de Robert De Niro. Ao mesmo tempo, a autarquia recusou apoio ao Doclisboa. Bloco questionou autarca há oito meses e não teve resposta.

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Robert De Niro e Carlos Moedas
Robert De Niro e Carlos Moedas em Nova Iorque, na apresentação da extensão do Festival Tribeca em Lisboa. Foto CML

A edição de 2024 do Festival Tribeca Lisboa, uma extensão de dois dias do festival que se realiza em Nova Iorque, custou à Câmara Municipal de Lisboa meio milhão de euros, acrescidos de 250 mil euros de apoio concedido pela Associação de Turismo de Lisboa (ATL). A soma destes dois apoios permitiu à SIC pagar os direitos de realização deste festival, no valor de 750 mil dólares.

O festival foi um autêntico “flop”, com condições de projeção e som abaixo dos mínimos exigíveis neste tipo de produções e as queixas do público a estenderem-se também ao preço elevado dos bilhetes, a 75 euros o passe diário e 130 euros para os dois dias. A afluência ficou aquém do previsto e muitos dos espetadores presentes tinham convites. A imprensa internacional ignorou o evento. O resultado foi um prejuízo de 360 mil euros, que poderia ultrapassar um milhão se não fossem os apoios das suas entidades públicas.

Esta quinta-feira a revista Sábado revela os emails que mostram a forma como o gabinete de Carlos Moedas, que tem o pelouro da Cultura, agilizou este apoio camarário diretamente com os responsáveis da SIC/Impresa para formalizarem a candidatura a receber meio milhão de euros da autarquia e também junto da ATL. Na mesma altura, o festival Doclisboa, que todos os anos traz o melhor cinema documental mundial à cidade, queixava-se de não ter o apoio de 100 mil euros que recebia desde 2017 da Câmara e de não conseguir respostas do executivo.

O festival Tribeca volta a realizar-se este ano no final de outubro na Unicorn Factory, no Beato. O preço do passe para os dois dias é de 255 euros e o bilhete mais barato custa 15 euros e dá direito a ver um filme. Segundo a Sábado, o Turismo de Portugal já confirmou que a SIC/Impresa voltou a candidatar-se a um apoio de 250 mil euros, mas da Câmara de Lisboa, EGEAC e ATL ninguém responde às questões colocadas sobre se haverá apoios ou se existem candidaturas.

Em reação à reportagem sobre o envolvimento do gabinete de Moedas a dar instruções a representantes da SIC/Impresa sobre como submeter candidaturas de apoio à edição do ano passado, a vereadora bloquista Beatriz Gomes Dias recordou Moedas que nunca deu resposta ao requerimento enviado há oito meses a pedir esclarecimentos sobre o apoio camarário ao festival. Agora, o Bloco de Esquerda quer ter acesso a toda a documentação enviada e recebida pelos serviços da CML, EGEAC e ATL com a SIC/Impresa, bem como aos pareceres e relatórios que justificaram a concessão desse apoio e o mapa de despesas e receitas do evento.

A vereação bloquista quer também saber se há apoios previstos ou ja aprovados para a edição deste ano do festival e se irá Moedas, “apesar do falhanço cultural da iniciativa e da falta de transparência no apoio público disponibilizado, manter a anunciada edição para 2025 com apoio da CML”.