O agente chamado ao local após Odair Moniz ter sido baleado na Cova da Moura contou no seu depoimento à Polícia Judiciária (PJ) que Odair ainda estava vivo quando chegou e não tinha ao pé de si “nenhum objeto, incluindo uma arma branca”.
Segundo o relatório final da PJ incluído no processo e citado pelo Expresso, este agente afastou-se do local para fazer comunicações e foi só passados 20 minutos que regressou para junto da vítima. Nesse momento, “recorda-se ver as duas bolsas que anteriormente estavam à cintura da vítima, agora no chão do lado esquerdo do corpo” e no chão “um punhal que se encontrava junto ao corpo, mais ou menos na zona da cintura”. Acrescentou também que na primeira conversa com o agente que efetuou os disparos fatais, este “nada mencionou sobre uma arma branca”.
Também o agente que acompanhava o agora arguido por homicídio relatou que não viu Odair empunhar qualquer arma e que só viu a faca quando a vítima foi socorrida pelas equipas de emergência, não a tendo encontrado nas buscas que fez às suas bolsas.
O relatório da PJ sublinha as incongruências nas versões contadas pelos agentes da PSP ouvidos em interrogatório, com uns a afirmar que viram de imediato a faca, outros só após o corpo ser removido e outros que não a viram em nenhum momento. Apesar de não o ter referido aos superiores presentes na cena do crime, o agente autor dos disparos terá dito aos colegas ter sido atacado com uma faca, versão que consta no auto de notícia assinado por si. Mas este auto está também sob suspeita de falsificação, pois o agente estava a prestar declarações na Polícia Judiciária à hora em que o auto foi entregue noutro local. Nem as testemunhas nem as imagens de videovigilância mostram Odair Moniz a empunhar qualquer arma branca antes de ser baleado por duas vezes pelo agente.
Na audição parlamentar ao Diretor Nacional da PSP esta quarta-feira, a deputada bloquista Joana Mortágua questionou Luís Carrilho sobre este relatório que permite concluir que “a morte de Odair Moniz não aconteceu em contexto de legítima defesa”. Na resposta, o responsável policial afirmou que “todos são inocentes até sentença transitada em julgado” e que “confiamos na justiça, tal como confiamos nos polícias”.