Morreu esta quarta-feira aos 90 anos o fotojornalista Eduardo Gageiro. Nascido em Sacavém em fevereiro de 1935, cedo se dedicou à fotografia. Aos 12 anos uma das suas fotos teve honras de capa no Diário de Notícias. É quando começa a trabalhar no escritório da Fábrica de Louças de Sacavém, onde o convívio com pintores, escultores e operários fabris o influenciam na decisão de se tornar fotojornalista. “Pensava que poderia virar o mundo do avesso com as minhas fotografias. E desde aí nunca mais parei de querer denunciar as injustiças”, afirmou em entrevista ao Expresso em 2017. Em 1957 começa a trabalhar no Diário Ilustrado e passa depois pelo O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, Sábado, Grande Reportagem e Associated Press, entre outros. Foi também fotógrafo da Companhia Nacional de Bailado, Assembleia da República, Presidência da República. Trabalhou também para a Deustche Gramophone, na Alemanha, Yamaha no Japão e Cartier, antes de se tornar freelancer.
Ao longo de mais de sete décadas, ganhou centenas de prémios de fotografias e foi condecorado Cavaleiro da Ordem de Leopoldo II na Bélgica e Comendador da Ordem do Infante D. Henrique em Portugal. Publicou vários livros com textos dos maiores escritores portugueses como José Cardoso Pires, José Saramago, Miguel Torga, Lídia Jorge, entre muitos outros. Os seus trabalhos estão integrados em várias coleções institucionais e de museus de fotografia de vários países.
Nesta extensa carreira, acompanhou através do seu olhar a situação social e política do país. Na ditadura, as imagens que fixava eram incómodas para o regime fascista e chegou a ser preso pela PIDE durante dois meses em 1965. No madrugada de 25 de Abril de 1974 é o primeiro fotógrafo a chegar ao Terreiro do Paço e consegue convencer os militares a passar as barreiras e acompanhar Salgueiro Maia numa altura em que o desfecho do golpe militar estava ainda em aberto. As suas fotografias daquele dia correram mundo. Algumas delas puderam ser vistas no ano passado na exposição Factum na Cordoaria Nacional, incluindo a da “viúva da Nazaré”, que foi capa d' O Século Ilustrado em 1963 e ganhou vários prémios, a do soldado a retirar a fotografia de Salazar de uma parede ou a do PIDE em cuecas no dia 25 de Abril.
Na companhia de Eduardo Gageiro, o Bloco de Esquerda encerrou a campanha das legislativas de 2024 com uma visita guiada pela exposição. Mariana Mortágua recordou hoje esse “privilégio de ser guiados pelo próprio numa das suas últimas exposições” e presta homenagem ao fotógrafo que, “década após década, nos mostrou muito do que somos e do que podemos vir a ser”.
O Esquerda.net e o Bloco de Esquerda endereçam sentidas condolências à família e amigos de Eduardo Gageiro.