A investigação às circunstâncias que culminaram na morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos, na madrugada de 21 de outubro no bairro da Cova da Moura, culminou na acusação do agente da PSP autor dos disparos fatais pelo crime de homicídio.
A notícia foi confirmada à agência Lusa pelo advogado do agente policial. Ricardo Serrano Vieira ainda não decidiu se irá requerer a abertura de instrução, o que só fará após leitura e análise do processo. Caso não o faça, o caso seguirá para julgamento.
Violência policial
PSP sob suspeita de manipulação de provas para justificar tiros contra Odair
A morte de Odair Moniz e as versões contraditórias do comunicado oficial da PSP, que começou por afirmar que a vítima tinha tentado agredir os agentes com uma arma branca para depois ser desmentida pelas testemunhas, a videovigilância e pela investigação da Judiciária, deram origem a uma onda de indignação por mais uma morte às mãos da policia e também pelo tipo de policiamento efetuado nos bairros periféricos da capital.
Seguiram-se várias noites de tumultos em alguns desses bairros, com a polícia a invadir a casa da família enlutada e o Governo a promover uma reunião com associações que o criticaram por não ter propostas concretas para responder aos problemas dos bairros periféricos e do racismo estrutural na sociedade. Em Loures, o autarca socialista Ricardo Leão aprovou uma proposta da extrema-direita para despejar os arrendatários de casas municipais que sejam condenados pela justiça, surgida no contexto daqueles tumultos que levantaram barricadas e incendiaram mobiliário urbano e autocarros, ferindo com gravidade um motorista da Carris. A polémica que se seguiu levou a saída do autarca da liderança da federação do PS da área metropolitana de Lisboa.
Milhares de pessoas desfilaram na Avenida da Liberdade para exigir “justiça para Odair Moniz” e o mesmo apelo foi feito no Parlamento de Cabo Verde, a par das críticas às declarações incendiárias dos líderes da extrema-direita portuguesa, que também motivaram uma queixa à Procuradoria Geral da República subscrita por milhares de cidadãos.
Além do processo judicial, ainda decorrem inquéritos sobre a ação dos agentes naquela noite, por parte da Inspeção Geral da Administração Interna e d própria Polícia de Segurança Pública.