Lições Dolorosas do 11 de Setembro: O Império devora-se a si próprio

É possível que muitos americanos queiram fazer uma pausa para reconhecer – ou esquecer – as reacções, nomeadamente as reacções excessivas, ao 11 de Setembro que têm prejudicado o nosso país. Como, nesta perspectiva de futuro, podemos respeitar o dia 11 de Setembro? Por Ralph Nader

11 de setembro 2011 - 18:45
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Memorial Jersey City – Foto de PaulS/Flickr

As cerimónias em memória do 11 de Setembro, previstas para o 10.º aniversário do massacre, são de profundo pesar pelas vítimas e as suas famílias, de louvor pela perseguição dos apoiantes dos agressores e pelo desempenho dos socorristas, bem como pelos nossos soldados no estrangeiro.

Bandeiras e música marcial irão marcar a atmosfera que combina tristeza e confronto com os terroristas que nos teriam ameaçado. Esses eventos serão momentos de silêncio respeitoso e algumas manifestações de raiva e ferocidade.

Mas é possível que muitos americanos queiram fazer uma pausa para reconhecer – ou esquecer – as reacções, nomeadamente as reacções excessivas, ao 11 de Setembro que têm prejudicado o nosso país. Como, nesta perspectiva de futuro, podemos respeitar o dia 11 de Setembro?

Aqui ficam algumas sugestões:

1. Não sobrevalorizar a força de nossos adversários para criar um clima de histeria que conduz à repressão das liberdades civis, consubstanciada no Patriot Act, e a enormes danos de longo prazo na nossa economia. Pensar no desvio massivo de triliões de dólares das necessidades da população para a enorme expansão e esbanjamento em orçamentos militares e de segurança.

2. Não permitir que os nossos líderes mintam e exagerem como quando nos disseram que existiam por todo o nosso país células da al-Qaeda suicidas e cheias de ódio. Na verdade, as invasões massivas do Iraque e do Afeganistão tornaram-se motivo de recrutamento para mais ramificações da al-Qaeda, nesses e noutros países; um facto reconhecido pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, George Casey, e pelo então director da CIA, Porter Goss.

3. Não criar um clima de medo, nem monopolizar uma definição partidária de patriotismo, a fim de silenciar os opositores de outros partidos políticos, os cidadãos ou os detidos ou maltratados injustamente.

4. Não tolerar presidentes que violem a nossa Constituição e iniciem guerras sem aprovação do Congresso e sem uma declaração de guerra (artigo 1.º, secção 8, cláusula 11). Não os deixar desobedecerem às leis federais, nem aos tratados internacionais, promovendo guerras ilegítimas, equívocas e pantanosas, como no Iraque, que provocam morte, destruição e dívidas que minam os nossos interesses nacionais.

5. Não aceitar que o Congresso passe um cheque em branco, fora do processo normal de audição da Comissão do Orçamento, para as enormes necessidades orçamentais do órgão executivo responsável pelo financiamento das guerras do Iraque, do Afeganistão-Paquistão e de outras guerras não declaradas.

6. Não permitir que o órgão executivo participe em práticas recorrentes inconstitucionais e ilegais, tais como escutas e outros métodos de vigilância dos americanos, sem aprovação judicial, além de detenções sem acusação, detenção por período indeterminado, tortura e negação do habeas corpuse outros direitos processuais relevantes, estipulados pelos nossos Pais Fundadores. O Congresso não aprovou nenhuma reforma para fiscalizar o exercício contínuo do poder presidencial ditatorial e sem supervisão.

7. Não permitir que o governo esconda do povo os horrores da guerra: proibindo fotografias das baixas dos EUA; dirigindo prisões secretas, desumanas; assediando jornalistas e recusando contabilizar as vítimas civis no Iraque, Afeganistão e Paquistão. Há demasiada intimidação dos soldados que voltam – tantos deles afectados para o resto da vida – para que não contem ao povo o que viveram e para que não pensem nessas guerras, nem nas onerosas subcontratações para beneficiarem grandes empresas.

8. Não permitir que os líderes violem os princípios americanos com a prática da tortura ou outros crimes de guerra proibidos pelas Convenções de Genebra. Nem que a hierarquia militar ou membros dos órgãos executivos estejam acima de nossas leis e escapem à responsabilidade.

9. Não permitir que vosso Congresso abdique da sua própria autoridade constitucional ou a transfira para o presidente. Nós, o povo, não exercemos suficientemente os nossos deveres cívicos para fazer com que os nossos representantes no Congresso cumprissem as suas obrigações, nos termos da Constituição, para decidir se íamos para a guerra e para agir como vigilante da conduta do presidente. A guerra da Líbia foi decidida e financiada pelo Presidente Obama sem aprovação do Congresso.

10. Afrontar aqueles que nos meios de comunicação se tornaram os porta-vozes do presidente e dos seus departamentos envolvidos nestas hostilidades. Que mais estão os militares a fazer na Líbia, na Somália e no Iémen, para além da versão oficial? Ao abrigo de que autoridade legal?

Além disso, exigir que os meios de comunicação procurem os factos incómodos, onde quer que isso possa levar, ao contrário do que se verificou no período pré-invasão do Iraque.

O célebre teólogo e filósofo americano, Reinhold Niebuhr, escreveu adequadamente há décadas que “até o fim da história, as ordens sociais provavelmente se iriam destruir ao esforçar-se por provar que são indestrutíveis”.

Todos os impérios acabaram por se corroer e devorar-se a si próprios.

Ralph Nader é um defensor dos interesses dos consumidores, advogado e autor de “Only the Super-Rich Can Save Us!” (Só os Super-ricos nos Podem Salvar). Está a incentivar as pessoas por todo o país a reunirem-se nas suas vilas ou cidades, no dia 10 de Setembro, para discutirem formas de evitar uma reacção excessiva às ameaças.

Texto publicado em Counterpunch, traduzido para o esquerda.net por Paula Coelho

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