João Teixeira Lopes

João Teixeira Lopes

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.

Há uma flotilha a caminho de Gaza. Gostava de acentuar o simbolismo da flotilha. Mais importante do que chegar a Gaza para distribuir alimentos e medicamentos é a viagem. A disponibilidade e a generosidade de sair do sofá e de partir.

Depois das reportagens da Maria José Oliveira só as perguntas são possíveis, para inquietar os vivos e honrar a memória dos mortos.

As direitas parecem viver no sonho de querer acabar com o presente para regressar a um passado idealizado de homogeneidade, coerência e harmonia. Um passado que nunca foi assim, pois desde sempre essa uniformidade imaginária se baseava quer na violência física, brutal, de erradicação da diferença.

Não abominem a raiva, porque dela brotam as ideias novas, a invenção do que há de vir, o perscrutar nervoso das possibilidades, ainda que incertas, ainda que raras, ainda que improváveis. A raiva não é o ódio, não se enganem. A raiva é uma ponte para fazer com os outros.

Observo, participando, que os meus estudantes estão bastante dependentes da cultura das redes sociais, mas que, ao longo do percurso (em sociologia) adquirem uma visão crítica. Há um imenso espaço de intervenção que permanece vazio. As universidades deixam os campus sem animação, sem oferta cultural.

Neste painel apresentado por João Teixeira Lopes no Fórum Socialismo 2024 falar-se-á da relação entre o indivíduo e o capital, do indivíduo enquanto ilha face ao resto da sociedade. 

A ciência lida mal com os capo regimes. Ela deve ser acumulada, trabalhada, coletivamente construída, mas sempre sob a batuta da dúvida e do questionamento colaborativos.

Não aceito a retórica belicista que, em doses progressivas, para estranharmos mas entranharmos, nos acena com a inevitabilidade do estado de guerra.

Uma profunda insegurança nos atemoriza. Nada garante o trabalho, o pão, a saúde, a paz, a habitação. Esboroa-se o calor da hospitalidade e do acolhimento. Só podemos confiar no nosso estado de performance total.

Pedro: nascemos ao mesmo tempo, no mesmo país, mas em dois lados distintos do mundo. Os nossos percursos só agora se tocaram, nas salas da Universidade. Os meus antepassados escravizaram os teus.