A Global Sumud Flotilla partiu de Barcelona há poucas semanas, carregando alimentos, medicamentos e esperança. Mais de quarenta barcos de ativistas, parlamentares, artistas, sindicalistas e pessoas comuns lançaram-se ao mar com um objetivo simples e radical - romper o bloqueio que transforma Gaza numa prisão a céu aberto, num ato profundamente político.
Ao largo da Tunísia, as primeiras respostas chegaram sob a forma de drones, ataques incendiários e bloqueios eletrónicos que cortaram comunicações, GPS e câmaras. Bem sabemos que Israel não tolera sequer gestos simbólicos de solidariedade, mas a flotilha seguiu em frente, confirmando que nenhum ataque desviaria a sua missão pacífica.
Enquanto os governos hesitavam, as ruas falaram mais alto. Portos italianos pararam sob o apelo dos sindicatos, comboios paralisaram, trabalhadores declararam que não moveriam uma única arma em direção a Israel. Multiplicaram-se manifestações exigindo o direito da flotilha a navegar em paz e o direito de Gaza a viver, exigindo o fim da cumplicidade internacional e da ocupação da Palestina. Esta solidariedade é prova de que não aceitamos ser cúmplices - temos os olhos postos em Gaza e em todos os territórios ocupados e não arredamos pé.
As reações europeias expuseram contradições gritantes. Portugal apelou à contenção israelita mas ao mesmo tempo aconselhou os seus cidadãos a “não avançar”, recusando qualquer escolta naval. Espanha e Itália, pressionadas pelas mobilizações massivas nas ruas e pelos sindicatos, enviaram navios da marinha em missões de proteção limitada. Já a Colômbia foi mais longe: apoiou explicitamente a flotilha, chamando-lhe “um grito ético contra o genocídio”. É particularmente grave que, mesmo perante a presença de Mariana Mortágua — deputada eleita no Parlamento português — entre os participantes, o Governo de Portugal não tenha assumido uma posição firme nem oferecido garantias claras de proteção política e diplomática. Este silêncio é conivente. Portugal não pode continuar a refugiar-se numa suposta prudência diplomática: deve seguir o exemplo colombiano, expulsando representantes israelitas e deve recusar toda e qualquer colaboração com o governo israelita. Como na Itália, os nossos sindicatos devem assumir um papel ativo, convocando greves e mobilizações para mostrar que quem trabalha e faz funcionar o país recusa ser cúmplice do bloqueio e do massacre da Palestina.
Durante a tarde de ontem e a madrugada de hoje, Israel lançou a sua ofensiva final: interceptou muitos dos barcos em águas internacionais. Ativistas foram detidos, entre eles Greta Thunberg, bem como Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte, e diversos representantes políticos de muitos países, junto com pessoas que carregavam ajuda humanitária e solidariedade internacional. Foi uma violação flagrante do direito marítimo internacional e uma demonstração de força que só reforça a ilegitimidade do bloqueio.
Em todas as ruas, em grandes protestos, nas greves e nos bloqueios, as nossas exigências são nítidas:
- Libertação imediata de todos/as os/as detidos/as;
- Fim do bloqueio criminoso de Gaza e abertura de corredores humanitários;
- Sanções internacionais e embargo de armas contra Israel;
- Responsabilização plena por violações de direitos humanos e do direito internacional.
Cada barco interceptado é uma denúncia, cada detenção é um grito, cada ato de solidariedade nos portos e nas ruas é uma demonstração da força da solidariedade internacional.
Gaza não está sozinha porque milhares se levantam em todo o mundo para recusar o silêncio cúmplice.
A Global Sumud mostra que a solidariedade é mais forte que os drones e mais legítima que os bloqueios. Agora cabe-nos a nós, aqui, transformar essa solidariedade numa pressão política firme, constante e avassaladora. Hoje, saímos às ruas, de Norte a Sul do país e levamos connosco a Flotilha, levamos connosco as vozes palestinas e exigimos dos nossos governos Boicotes, Sanções e Embargo de material militar para Israel.
