Obituário

António Borges Coelho (1928-2025)

17 de outubro 2025 - 19:02

Resistente antifascista, foi uma figura marcante da historiografia portuguesa com obras influentes sobre a Inquisição e a presença islâmica no nosso território.

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António Borges Coelho.
António Borges Coelho. Foto de Miguel A. Lopes/Lusa.

O historiador António Borges Coelho faleceu esta sexta-feira aos 97 anos, vítima de uma pneumonia.

Resistente anti-fascista, foi autor de obras marcantes da historiografia portuguesa sobre a Inquisição e a presença islâmica no território que agora corresponde a Portugal.

António Borges Coelho tinha nascido em Murça, Vila Real, a 7 de Outubro de 1928. Quis ser frade franciscano e chegou a entrar para o seminário de Montariol, em Braga, do qual, segundo umas fontes foi expulso, segundo outras abandonou por falta de vocação.

Ao mesmo tempo que trabalhava para a Junta Autónoma das Estradas, estudou Direito em Lisboa, onde aderiu ao MUD Juvenil em 1949, tendo sido seu dirigente. Adere ao Partido Comunista Português e torna-se funcionário na clandestinidade.

A 3 de Janeiro de 1956 é preso pela PIDE. Percorre as cadeias do Aljube, Caxias, a delegação da PIDE no Porto e a prisão de Peniche. É aí com, em 1959, casa com Isaura Silva. No ano seguinte, escolhe não participar na famosa fuga de Peniche protagonizada por vários dirigentes do PCP. Em vez de voltar à clandestinidade, queria dedicar-se à investigação histórica.

Em 1962, é posto em liberdade condicional. Vai, depois disso, tirar a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa que conclui em 1968 com uma tese sobre Leibniz. Tendo-se doutorado em 1984 com um estudo sobre a Inquisição Eborense.

Ainda em 1968, tornou-se jornalista, n’ A Capital, sendo co-fundador deste jornal. O seu trabalho em órgãos de comunicação social foi desenvolvido, para além disso, no Diário de Lisboa, Diário Popular, Vértice e na Seara Nova

A seguir ao 25 de Abril de 1974 tornou-se professor na Faculdade de Letras daquela Universidade. Entretanto, dedicara-se já à história, área na qual publica Raízes da Expansão Portuguesa (1964), A Revolução de 1383 (1965), Comunas ou Concelhos (1973), Quadros para Uma Viagem a Portugal no Século XVI (1986), A Inquisição de Évora (1987), O Vice-Rei Dom João de Castro (2003), Ruas e Gentes da Lisboa Quinhentista (2006) e vários volumes da História de Portugal.

Tem ainda um obra vasta de poesia, ficção, ensaio e peças de teatro, tendo publicado, por exemplo, Roseira Verde (1962), Ponte Submersa (1969), Fortaleza (1974), No Mar Oceano (1981) e Ao Rés da Terra (2002). 

Em 1991 sai do PCP.

A sua vasta atividade cívica inclui ser fundador e diretor darevista História e Sociedade (1978), sócio fundador do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM) e a colaboração com o Museu do Aljube, do qual foi, até 2020, presidente do Conselho Consultivo.