Combustíveis fósseis

Consumo de carvão continua a aumentar, metas climáticas longe de serem alcançadas

23 de outubro 2025 - 10:24

O relatório Estado anual da Ação Climática mostra que os principais indicadores que permitiriam combater as alterações climáticas estão longe de poder ser alcançados atempadamente.

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Central a carvão.
Central a carvão. Foto de Arnold Paul/Wikimedia Commons.

O relatório Estado anual da Ação Climática, publicado esta quarta-feira, mostra que as metas para a redução de gases com efeito de estufa não estão a ser alcançadas.

Um dos exemplos mais críticos é o do consumo de carvão que atingiu um recorde absoluto o ano passado. Apesar da sua “quota” no total da geração de eletricidade ter diminuído e das energias renováveis terem aumentado, o aumento da procura fez com que o consumo deste combustível fóssil afinal aumentasse.

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Clea Schumer, investigadora do World Resources Institute, que co-dirigiu o relatório, sublinha que é “o quinto relatório seguido na nossa série” em que os “esforços para ir eliminando gradualmente o carvão estão muito afastados do caminho”. Para ela, “a mensagem” da análise “é cristalina. Simplesmente não limitaremos a um aumento de temperatura de 1,5°C [relativamente à era pré-industrial] se a utilização do carvão continuar a bater recordes”. Assim, as metas estabelecidas pelo acordo de Paris estarão cada vez mais longe.

Apesar disso, a investigação realça um crescimento “exponencial” das energias renováveis. Sendo que a energia solar se tornou “a fonte de energia que cresce mais rápido na história”. Sophie Boehm, do mesmo instituto e outras das autoras principais do estudo, considera que “os recentes ataques dos Estados Unidos à energia limpa” são um problema. “Mas a transição mais ampla é muito maior do que qualquer país, e o impulso está a crescer nos mercados e economias emergentes, onde a energia limpa se tornou o caminho mais barato e fiável para o crescimento económico e a segurança energética.”

Lança-se ainda um alerta sobre o estado dos “sumidouros de carbono”, como florestas, turfeiras, zonas húmidas, oceanos e outros recursos naturais que armazenam carbono. As florestas continuam a sofrer processos de desmatamento. Em 2024, mais de oito milhões de hectares foram destruído permanentemente.

O problema não se resume ao carvão. O estudo conclui que nenhum dos 45 indicadores avaliados está a caminho de atingir as suas metas alinhadas com o aumento de temperatura de 1,5°C até ao final desta década.

Schumer avança que “todos os sistemas tem o alerta vermelho a piscar ”. Pelo que “o progresso constante já não é suficiente – a cada ano que não aceleramos, a diferença aumenta e a subida torna-se mais íngreme. Simplesmente não há tempo para hesitações ou meias medidas.”

Do conjunto de indicadores analisados, seis estão “fora do caminho”, ou seja a andar na direção certa mas “não rápido o suficiente”; 29 estão “muito fora do caminho”; cinco estão “na direção completamente errada” e sobre os outros cinco nem sequer há dados para avaliar o progresso.

Até 2030 seria preciso, defende-se, para além de aumentar o ritmo da eliminação do carvão para dez vezes mais, o que implicaria desativar quase 360 centrais termoelétricas a carvão de tamanho médio a cada ano e interromper todos os projetos em curso, reduzir a desflorestação nove vezes mais rápido (continuando-se em 2022 a perder permanentemente perto de 22 campos de futebol de floresta a cada minuto).

Nos transportes públicos seria preciso expandir as redes de transporte rápido cinco vezes mais rápido (o equivalente à construção de, pelo menos, 1.400 km de faixas de metro ligeiro, metro e autocarros anualmente) e precisar-se-ia aumentar o “financiamento climático” em quase um bilião de dólares anuais, o equivalente a cerca de dois terços do financiamento público para os combustíveis fósseis em 2023.

Sophie Boehm conclui: “não estamos apenas a ficar para trás – estamos efetivamente a chumbar nas disciplinas mais críticas. Como mostra este boletim global, mal se avançou na eliminação gradual do carvão ou na interrupção da desflorestação, enquanto o financiamento público ainda sustenta os combustíveis fósseis. Estas ações não são opcionais; são o mínimo necessário para combater a crise climática e proteger a humanidade.”