Documentos internos da Amazon, revelados esta terça-feira pelo The New York Times, mostram que a empresa planeia automatizar 75% das suas operações, substituindo assim mais de meio milhão de postos de trabalho por robots.
Em pouco mais de três décadas de existência, a empresa fundada por Jeff Bezos tornou-se o segundo maior empregador nos EUA com perto de 1,2 milhões de trabalhadores. O ritmo de crescimento nos últimos anos tornou-se alucinante com a empresa a ter mais do que triplicado a sua força de trabalho desde 2018. E as expetativas apontam para uma duplicação das vendas de produtos até 2033.
Isso implicaria a contratação de mais 600.000 trabalhadores. Na reunião do conselho de administração do ano passado a perspetiva apresentada era que a robotização evitasse esse cenário. Novos documentos a que o jornal teve agora acesso mostram que o objetivo é automatizar 75% do total das suas operações.
Estes documentos mostram que a empresa está bem consciente do impacto que isso terá nas comunidades onde desenvolve a sua atividade e que perderão empregos. Neles também se recomenda evitar o uso de termos como “IA”, “automação” ou “robot”, que deverão ser substituídos por eufemismos como “tecnologia avançada” ou “cobot”, um termo que remete para a colaboração entre o robot e o humano.
Em resposta a esta notícia, a Amazon diz que os documentos revelados estão incompletos, que não revelam a estratégia global de contratação da empresa e assegura que a empresa contratará mais 250.000 trabalhadores para a próxima época alta que abrange o período do Natal. A empresa não respondeu à questão sobre quantos destes empregos seriam permanentes.
O modelo Shreveport
O impulso para a automação na Amazon não vem de hoje. Em 2012, a empresa comprou um fabricante de robots, a Kiva, o que permitiu começar a introduzir nos armazéns robots que percorrem grandes distâncias para alcançar produtos.
Este sistema tem vindo a aprimorar-se desde então e a sua “montra” principal é agora o armazém de Shreveport, no estado do Luisiana, inaugurado o ano passado. Nele operam mil robots, dispensando a contratação de um quarto dos trabalhadores que seriam necessários sem eles. E automação continuará a avançar nesta unidade de modo que, para o ano, mais robots farão com que esta quota suba para metade.
O modelo de Shreveport será copiado para 40 unidades, só nos próximos dois anos. O New York Times dá o exemplo de uma delas, em Stone Mountain, perto de Atlanta. Atualmente, esta emprega perto de 4.000 pessoas. O sistema robótico que vai ser instalado reduz o número para menos de 1.200, passando estes a serem mais temporários do que a tempo inteiro, ao mesmo tempo que a capacidade de processamento de encomendas subiria 10%. Os documentos mostram uma consciência por parte dos técnicos envolvidos na transição de “controlar a narrativa”, pelo que a prioridade é enfatizar a criação de mais empregos técnicos e apostar na ideia da “inovação para dar às autoridades locais um sentimento de orgulho”.