“País não perdoa maioria absoluta pela instabilidade de trabalhar e não conseguir pagar casa”

20 de julho 2023 - 19:04

Mariana Mortágua criticou a "promessa oca de estabilidade” do Governo e frisou que o problema da Habitação comprova a “incapacidade da maioria absoluta” e a sua “cumplicidade com os mais fortes”.

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Durante o debate sobre o Estado na Nação, Mariana Mortágua acusou o Governo de sustentar a sua maioria absoluta numa "promessa oca de estabilidade".

A coordenadora do Bloco afirmou que António Costa conta com “um coro de suporte que tem como principal objetivo ocultar as falhas da voz principal”. “Vai engolindo decisões vergonhosas como ontem, quando votou contra a paridade de juízes no Tribunal Constitucional, vai apagando ministros da figura que o Governo quer esconder, como fez no relatório da comissão de inquérito à TAP", frisou.

Mariana Mortágua referiu-se à direita como o "abutre que espera pelo fim", sem “alternativa real” às políticas do PS. “Até na privatização da TAP temos uma convergência entre PS e PSD”, defendeu.

Assinalando que o Bloco não lança foguetes a cada escândalo no Governo, nem anseia por mais demissões, a coordenadora bloquista apontou, por outro lado, que o partido também não normaliza este jogo de cadeiras. “Muito menos quando traduz suspeitas de corrupção, e menos ainda quando estas são práticas reiteradas no Ministério da Defesa”, vincou.

Mariana Mortágua referiu que António Costa “deve uma palavra ao país hoje sobre o que se passa no Ministério da Defesa e o que vai fazer para evitar esta dança macabra de substituição em substituição".

A coordenadora do Bloco lamentou que o Governo dedique aos trabalhadores “toda a sua arrogância e paternalismo”, como faz com os professores, “repetindo que está aberto a negociação, desde que não dê em nada, ou, como dirá o ministro das Finanças, desde que a despesa estrutural não aumente”.

"Programa Mais Habitação já fracassou e não dá para disfarçar"

“É de um lugar de frontal oposição que o Bloco de Esquerda olha o Estado da Nação. E se há uma questão em que se comprova a incapacidade da maioria absoluta e esta cumplicidade com os mais fortes, esse tema é a habitação”, avançou Mariana Mortágua.

“Não diga que não viu, senhor primeiro-ministro. Viu e incentivou. Não diga que não vê prédios despejados para a especulação ou os lucros da banca a esmifrar as famílias no crédito casa. Não diga que não vê tanta gente sem casa e um corrupto condenado nos EUA premiado com a nacionalidade portuguesa por ter açambarcado 14 imóveis na capital. E que ganha nacionalidade através num visto gold. Não diga que não sabe que em Viseu as rendas subiram 40%. O salário não chega a 1.000 euros mas a renda custa 700 euros”, continuou a dirigente bloquista.

Mariana Mortágua lembrou que o primeiro-ministro já tinha prometido resolver o problema da habitação com 170 mil casas a renda acessível até 2024. Mas hoje admitiu que serão 6.800. E questionou como é possível confiar num Governo que apenas deixa promessas vazias.

De acordo com Mariana Mortágua, “a situação na Habitação é catastrófica e a publicidade não vai resolvê-la”. Para responder à crise é preciso atacar o “sagrado privilégio” de alguns e “proteger um direito constitucional, mesmo que isso doa aos bancos e aos fundos imobiliários e aos açambarcadores de casas”.

A dirigente bloquista enfatizou que “uma coisa é certa e o Governo sabe: o programa Mais Habitação já fracassou e não dá para disfarçar”. E “o país não vai perdoar à maioria absoluta do PS a maior instabilidade de todas: trabalhar, ter um salário e, mesmo assim, não conseguir pagar uma casa”.

Governo diz optar pela “prudência do passo a passo" na Habitação

Sobre a Habitação, António Costa não deu qualquer resposta sobre a sua cumplicidade com os mais fortes, ironizando que o Bloco preferia um “triplo salto”, mas o executivo opta pela “prudência do passo a passo" para avançar com medidas.

Quanto ao caso de Marco Capitão Ferreira, o primeiro-ministro afirmou que “ninguém está acima da lei”, mas que “há o devido respeito pela presunção da inocência”. António Costa congratulou-se pelo facto de os governantes que deixaram o executivo por questões associadas a corrupção não terem praticado ou omitido nenhum dos atos durante o exercício de funções governativas.