Genocídio

Afinal, Netanyahu quer mesmo ocupar toda a Faixa de Gaza

08 de agosto 2025 - 10:13

Em entrevista à Fox News, o primeiro-ministro israelita assumiu que quer controlar toda a Faixa de Gaza e colocar no poder um governo fantoche. O conselho de guerra sionista deu luz verde ao intensificar da ocupação enquanto oposição, familiares de reféns e o próprio chefe do Estado-Maior estão contra.

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Familiares e amigos de reféns israelitas manifestam-se à porta da sede do governo durante a reunião do Conselho de Segurança.
Familiares e amigos de reféns israelitas manifestam-se à porta da sede do governo durante a reunião do Conselho de Segurança. Foto de ABIR SULTAN/EPA.

A pergunta inicial foi direta: “Israel vai assumir o controlo de Gaza inteira?” E a resposta foi imediata e sem hesitações “é o que tencionamos fazer”. Em entrevista à Fox News esta quinta-feira, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, confirmou algo de muito diferente daquilo que iria sair oficialmente da reunião do Conselho de Segurança do seu país no qual entrou logo a seguir a estas declarações. Na versão oficial dos resultados daquele encontro o controlo do exército israelita limitar-se-ia à cidade de Gaza.

Contudo, ao canal vincadamente ultra-conservador, o chefe de governo sionista admitiu uma história bem diferente. O jornalista ainda insistiu, reformulando a pergunta e sublinhando essa parte do controlo total do território. Ao que Netanyahu respondeu, de forma positiva, dizendo “não temos intenção de o manter” mas criar um “perímetro de segurança” e depois diz que o plano é entregar mais tarde a “forças árabes que o governem devidamente”. A sua justificação para isso foi que seria preciso “assegurar a nossa segurança, remover o Hamas de lá, permitir que a seja livre de Gaza (sic) e passá-la para um governo civil”.

Mais uma extensão do ataque genocida, levantam-se vozes contra em Israel

O gabinete de guerra sionista esteve reunido até à noite desta quinta-feira e o seu resultado foi aquele que Netanyahu pretendia: uma nova extensão das operações na Faixa de Gaza, mesmo enfrentando resistência de vários setores militares do país. E se o mais notado por parte de grande parte da imprensa internacional foi a parte do anúncio sobre “tomar controlo da cidade de Gaza”. Mas a cidade é apenas referida como o alvo principal. O comunicado final também não deixa muita margem para uma interpretação diferente nos seus “cinco princípios para concluir a guerra”. Neles se inclui “o controlo securitário israelita na Faixa de Gaza”, “o estabelecimento de uma administração civil alternativa que não seja nem o Hamas nem a Autoridade Palestiniana”, a “desmilitarização da Faixa de Gaza”, “o desarmamento do Hamas” e o “regresso de todos os reféns – vivos ou mortos”, entendendo-se por reféns os reféns israelitas detidos pelo Hamas não os palestinianos detidos por Israel.

A nova fase da ofensiva deverá demorar alguns meses, alega-se, e mobilizar entre quatro a seis divisões do território. A ideia é terminar uma evacuação forçada da cidade de Gaza até ao dia 7 de outubro.

Na prática, as duas declarações acabam assim por convergir na admissão de uma guerra de ocupação total e na tentativa de colocar no poder um governo fantoche. Há ainda um quarto do território de Gaza que não está sob controlo direto do exército israelita depois de cerca de 22 meses de ofensiva que causou um número confirmado de mortos que superou já os 61.000, com 146.000 feridos, tirando as pessoas desaparecidas sobre os escombros. Ao mesmo tempo, todos os dias continuam a chegar notícias de pessoas que morreram de fome, por falta de medicamentos ou cuidados médicos com o exército sionista a impedir que a ajuda humanitária internacional chegue aos civis.

Contra esta medida, estão os partidos da oposição em Israel, familiares de reféns e diversas organizações não governamentais. As primeiras manifestações contra este plano aconteceram já. Numa delas, em frente à sede do governo, Anat Angrest, mãe de um dos prisioneiros, declarava que “a escalada dos combates equivale a uma condenação à morte e ao desaparecimento imediato dos nossos próximos. Olhem-nos nos olhos quando os decidem sacrificar”.

Yaïr Lapid, um dos dirigentes da oposição e ex-primeiro-ministro, comentou o plano de Netanyahu como “uma muito má ideia”, acrescentando que em Israel “não conduzimos uma guerra se a maioria da população não a apoia. Vamos pagar um preço alto, ao mesmo em vidas humanas e em milhares de impostos”.

A decisão vai também contra altas figuras militares do país que, mais ou menos vocalmente, têm feito saber que não apoiam a estratégia ofensiva de Netanyahu. Foi o que fez Eyal Zamir, chefe do Estado-Maior do exército sionista que a imprensa coloca como estando a advertir o primeiro-ministro sobre os riscos da sua posição ao longo de várias reuniões. Os riscos que o preocupam não são os que os palestinianos correm mas os que correm os reféns israelitas e os seus soldados. Na sequência desta última reunião, o chefe militar tratou de expor publicamente o desacordo, algo quase inédito, declarando: “continuaremos a expressar a nossa posição sem medo, de maneira pragmática, independente e profissional”.

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