Num artigo de opinião publicado no jornal Público a 29 de maio, e republicado pelo Esquerda.net, José Manuel Pureza escreve que o facto de o governo português aceitar “adjetivar” o plano marroquino de autonomia especial do Sahara como “proposta realista, séria e credível”, sem “mencionar uma única vez o imperativo da autodeterminação do povo sarauí”, é “um gesto de abdicação e de profunda incoerência”.
O dirigente bloquista refere as “similitudes” entre os casos de Timor-Leste e do Sahara Ocidental e afirma que “é também por uma razão de coerência com o que fez relativamente a Timor que se espera que o Governo português tenha para com o Sara Ocidental uma posição que exprima a mesma exigência de cumprimento do Direito Internacional concretizado no direito à autodeterminação do povo sarauí”.
Nesse sentido, José Manuel Pureza expressa “a maior perplexidade” face à afirmação, na Declaração Conjunta da recente Reunião de Alto Nível Marrocos-Portugal, realizada em 12 de maio, de que “Portugal reiterou o seu apoio à iniciativa marroquina de autonomia, apresentada em 2007, enquanto proposta realista, séria e credível, com vista a uma solução acordada no quadro das Nações Unidas”.
A resposta a este artigo surge pelas mãos do embaixador marroquino em Portugal, Othmane Bahnini, que, num artigo de opinião publicado no Público esta segunda-feira, procura refutar os argumentos de José Manuel Pureza e sair em defesa do governo português, identificando-o como um dos defensores do projeto de autonomia apresentado por Marrocos.
Na sua conta de Facebook, José Manuel Pureza afirma não ficar espantado com parte do seu conteúdo: “As mesmas teses de sempre, os mesmos silêncios de sempre, para defender a posição de sempre: a negação do direito à autodeterminação do povo saharaui”.
O que o espanta, por outro lado, “é que seja o Embaixador de Marrocos a responder a um artigo sobre a posição do Governo português”.
E é exatamente por isso que frisa que “o que se exige agora é que o Governo esclareça a afirmação principal do artigo do representante de Marrocos em Lisboa: a de que Portugal é um dos apoiantes do projeto do ocupante do Sahara com a consequente negação do direito de autodeterminação daquele povo”.