Giro d’Italia, Tour de France, Vuelta a España. Há uma equipa de ciclismo que vai a todas as grandes competições do ciclismo europeu e que também está presente na Volta a Portugal. Trata-se da Israel-Premier Tech, uma equipa que pretende representar o Estado de Israel.
A denúncia é da campanha BDS, Boicote, Desinvestimento, Sanções que diz que se trata de “sportswashing”, ou seja da utilização do desporto para limpar a imagem do país apostado no genocídio em Gaza. Assim, o BDS apela a protestos e lembra que “os organismos desportivos internacionais têm a obrigação moral de tomar todas as medidas para prevenir o genocídio ou arriscam-se a ser responsáveis criminalmente”.
Recorde-se que um dos proprietários da equipa é o multimilionário israelo-canadiano Sylvan Adams que assume o propósito de lavar a imagem do Estado sionista com ela. Em 2018, pagou milhões do seu bolso para que o Giro tivesse as suas três primeiras etapas em Israel. A iniciativa contou ainda com o financiamento dos ministérios israelitas do Turismo e dos Transportes.
Em 2020, comprou a licença da Team Katusha, o que permitiu à sua equipa participar pela primeira vez no Tour de France. A este propósito declarou: “teremos o nosso nome, Israel, na Volta à França, que será visto por 2,6 mil milhões de pessoas com as nossas cores azul e brancas. É muito simbólico”.
Sobre o que se passa em Gaza, diz ser uma guerra do “bem versus o mal e da civilização contra a barbárie”, chama ainda aos líderes mundiais que apelam ao fim “desta matança de mulheres, crianças, bebés” de “idiotas úteis”. Ao mesmo tempo coloca-se ao lado de Trump, considerando a sua presidência “a mais positiva na história, a mais forte que já vimos sobre Israel”.
Ron Baron, um magnata norte-americano dos fundos de investimento, e o outro co-proprietário da equipa, assume claramente tratar-se de uma forma de “diplomacia desportiva”. O mesmo o fazem destacadas figuras da equipa como o ciclista Guy Niv, um dos poucos israelitas a ter pedalado por ela entre 2018 e 2022, que esclarece: “somos todos embaixadores da nação. Não temos um patrocinador como as outras equipas, a nossa marca é Israel e levamos o nome de Israel para onde quer que vamos”.
A União Ciclista Internacional, que junta as federações nacionais de ciclismo e que é organismo internacional que regula o desporto responde às críticas que lhe são feitas por aceitar uma equipa destas afirmando ser uma “organização politicamente neutral”. A mesma instituição suspendeu as equipas russas e bielorrussas de todas as suas competições na sequência da invasão russa da Ucrânia.
Este envolvimento da Israel-Premier Tech levou a campanha BDS a apelar a protestos pacíficos. E eles aconteceram já anteriormente em Itália, França, Espanha e Países Baixos. E até no campeonato nacional de ciclismo da Austrália onde participava Simon Clarke, destacado elemento da equipa. Como resposta a estes protestos, a Israel–Premier Tech emitiu um comunicado em que volta a vincar a sua ligação ao sionismo: “somos a única equipa desportiva profissional no mundo que inclui Israel no nome e vamos continuar a fazê-lo e a orgulhosamente representar o país”.
Com a presença de uma subsidiária desta equipa agora em Portugal, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, MPPM, junta-se a este movimento, repudiando a participação desta equipa na 86ª Volta a Portugal em Bicicleta. Considera que este não é um projeto desportivo “mas antes um instrumento da propaganda israelita para branqueamento dos seus crimes de genocídio, de apartheid e de generalizado desrespeito pelo direito internacional”.
O MPPM lembra que não é a equipa principal da Israel-Premier Tech que está na Volta mas uma subsidiária de um escalão inferior a Premier Tech Academy. Apesar disso, considera-se tratar-se na mesma de “embaixadores do país que é responsável por um genocídio visando 2,3 milhões de palestinos em Gaza e por uma brutal ocupação militar da Cisjordânia, por um regime de apartheid e pela instauração de um regime de permanente conflito na região”.
Para este movimento, “estes “embaixadores” não são bem-vindos a Portugal e são convidados indesejados na grande festa popular que é a Volta a Portugal em Bicicleta.”