Um grupo de eurodeputados dos grupos da Esquerda, socialistas, liberais e ecologistas, entre os quais os portugueses Marisa Matias, José Gusmão, Sandra Pereira e João Pimenta Lopes, escreveram ao presidente da FIFA Gianni Infantino para que este assegure que na avaliação da candidatura tripartida de Portugal, Espanha e Marrocos “entre as sedes propostas não se inclua nenhuma situada em territórios ocupados do Sahara Ocidental”.
Os eurodeputados admitem que esta é a candidatura favorita, após a exclusão da Ucrânia, a retirada da Arábia Saudita e o apoio declarado da Confederação Africana de Futebol. O problema é que “Marrocos está a construir um grande estádio desportivo em Dakhla, localidade do Sahara Ocidental, território não autónomo pendente de descolonização segundo as Nações Unidas, ocupado ilegalmente por Marrocos desde 1975” e onde têm lugar violações de direitos humanos sistemáticas, testemunhadas por inúmeras organizações internacionais.
Eu e outros deputados escrevemos hoje ao Presidente da FIFA, contestando a possível realização da Copa do Mundo 2030 no Saara Ocidental ocupado. A FIFA não pode legitimar e tornar-se cúmplice de uma ocupação. Nem Portugal, que prepara esta proposta com Espanha e Marrocos. pic.twitter.com/QbIYBTkR89
— José Gusmão (@joseggusmao) July 10, 2023
“A celebração de eventos internacionais, como jogos de futebol, em territórios ocupados pode contrariar o direito internacional, já que incumpriria as obrigações da potência ocupante de não explorar os recursos e a população do território ocupado em benefício próprio”, argumentam na missiva ao líder da FIFA. Além disso, a celebração de jogos do Mundial de Futebol no Sahara Ocidental “contribuiria para continuar a normalizar a adesão ilegal de facto de um território por parte de uma potência ocupante”, tornando-se assim a FIFA “cúmplice desta situação”.
Os subscritores da carta defendem que “o espírito desportivo devia ser incompatível com qualquer violação do direito internacional e dos Direitos Humanos”, pelo que apelam a Infantino que quando chegar o momento de avaliar a candidatura eventuais estádios em territórios ocupados do Sahara Ocidental sejam excluídos do Mundial de futebol.
Quando foi conhecida a participação de Marrocos na candidatura conjunta de Portugal e Espanha à organização do evento, a Associação de Amizade Portugal - Sahara Ocidental solicitou uma reunião ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol para que este reconsiderasse a proposta, "sob pena de o Campeonato Mundial de Futebol se transformar numa ocasião privilegiada de encobrimento das violações dos Direitos Humanos cometidas pelo regime marroquino e daqueles que, conhecendo a situação, lhe dão cobertura, ficando assim o evento desportivo indelevelmente desprestigiado”.