Trumponomics: qual é o plano?

por

Rob Hoveman

Trump pretende reduzir impostos aos mais ricos, mais protecionismo e guerras aduaneiras e deportar milhões de migrantes. É difícil de prever o que concretizará. Mas avizinha-se um período com muitas turbulências económicas.

07 de dezembro 2024 - 18:48
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Pormenor da capa do livro de Trump: Como enriquecer.
Pormenor da capa do livro de Trump: Como enriquecer. Foto de Paul Downey/Flickr.

Nas 24 horas que se seguiram ao anúncio da vitória de Donald Trump, os dez bilionários mais ricos do mundo ficaram 64 mil milhões de dólares mais ricos. Como assim, se ele só vai tomar posse em janeiro?

A resposta é que a bolsa de valores dos Estados Unidos disparou para novos máximos, na expetativa de grandes reduções de impostos sobre as empresas por parte de Trump e do Congresso que controlará no próximo ano. Isto irá aumentar significativamente os lucros das empresas.

Quando a antiga primeira-ministra britânica, Liz Truss, prometeu grandes reduções fiscais não financiadas em setembro de 2022, os investidores ricos resgataram a libra e os fundos de pensões quase entraram em colapso.

O mesmo não acontece nos EUA, onde o dólar é utilizado para a grande maioria das transacções comerciais e cambiais internacionais. Este facto confere ao dólar o estatuto de moeda de reserva e isola o governo federal, até certo ponto, da turbulência dos mercados financeiros internacionais.

Uma ameaça potencial ao dólar advém das tentativas em curso de criar uma moeda rival para as transacções internacionais, com base nos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A estes juntam-se agora alguns países do Médio Oriente ricos em petróleo.

Mas há ainda um longo caminho a percorrer até que a moeda internacional chinesa – o renminbi – esteja sequer perto de rivalizar com o dólar. Atualmente, representa menos de 3% dos pagamentos mundiais.

Os níveis da dívida federal não podem continuar a aumentar sem limites. A dívida ascende atualmente a mais de 35 biliões de dólares, ou seja, quatro vezes o seu nível mais baixo do pós-guerra, atingido em 1974. Mas níveis tão elevados de dívida federal podem ser geríveis. Se o crescimento económico for forte, as receitas fiscais aumentarão e, se as taxas de juro se mantiverem relativamente baixas, o montante dos juros pagos sobre a dívida será limitado.

Mas estes são dois grandes “ses”.

As taxas de rendibilidade das obrigações – as taxas de juro determinadas no mercado da dívida – já subiram desde a eleição de Trump e subirão ainda mais se a inflação voltar a disparar. E há boas razões para pensar que a “Trumponomics” irá alimentar a inflação.

Para além dos cortes nos impostos, o outro elemento significativo das políticas económicas prometidas por Trump são as grandes tarifas sobre as importações. Um dos seus conselheiros económicos mais influentes é Robert Lighthizer. O seu livro, No Trade is Free, defende a criação de um muro protecionista em torno dos EUA para tornar a indústria “grande outra vez”.

Foram anunciados tarifas aduaneiras de 20% ou mais para uma série de importações. Não se trata apenas da China, que os EUA consideram atualmente um rival hostil, mas também da Europa, do Canadá e do México. Alguns sugeriram mesmo uma tarifa de 500% sobre os automóveis provenientes do México.

As tarifas aduaneiras aumentam o preço dos bens importados e aliviam a pressão para a descida dos preços dos bens produzidos nos EUA – se existirem bens para substituir essas importações.

Trump também já se gabou de um maior controlo sobre o banco central dos EUA, a Reserva Federal. Receia que esta aumente as taxas de juro e asfixie o crescimento se for assustada pelo aumento dos preços e dos níveis de endividamento. Mas isso poderia assustar ainda mais os mercados financeiros e, de qualquer forma, é provável que encontre uma forte resistência política.

As tarifas também reduzem o comércio mundial e o crescimento económico mundial, especialmente se provocarem guerras comerciais de retaliação. A dimensão da economia dos EUA significa que o que acontece no resto do mundo tem menos impacto sobre ela do que em países como a Grã-Bretanha, que são mais dependentes do comércio internacional.

O protecionismo da Trumponomics é certamente um mau presságio para a Grã-Bretanha e para a Europa em geral. Mas um abrandamento do comércio internacional terá repercussões no crescimento económico dos EUA.

Há outra reviravolta nas políticas gerais de Trump que é potencialmente inflacionista. Ele faz questão de deportar milhões de migrantes sem documentos dos EUA. Estes migrantes são vulneráveis à sobre-exploração, trabalhando por baixos salários em empregos precários.

Retirá-los do mercado de trabalho pode fazer diminuir a economia dos EUA em 7% e exercer pressão sobre os salários e os preços.

O que vai acontecer exatamente é incerto. Talvez o Congresso e Elon Musk, que tem interesses comerciais na China, consigam refrear os aspectos mais extremos da Trumponomics. Esperemos que o esquema vil de deportar milhões de imigrantes sem documentos se revele impraticável.

Mas Trump está a reivindicar um mandato para uma mudança dramática na política económica e parece que terá uma Câmara dos Representantes e um Senado mais dispostos a dar-lhe esse mandato.

Talvez a previsão mais segura seja a de que se avizinham muitas turbulências económicas e nenhuma delas é boa. Exceto se inspirae a resistência da classe trabalhadora a todo este jogo de tiro ao alvo.


Rob Hoveman é doutorando em Filosofia na Universidade Europeia Central e dirigente do SWP britânico.

Publicado originalmente no Socialist Worker.