Com o bloqueio dos portos ucranianos após o início da guerra, a Ucrânia passou a usar o transporte por via terrestre para conseguir exportar cereais, através da Polónia e paises vizinhos. O problema é que boa parte desses cereais ficaram nos países do centro da Europa e foram vendidos a um preço muito mais barato do que os produzidos localmente, provocando a revolta dos agricultores.
Na Polónia, essa revolta levou à queda do ministro da Agricultura, acusado de nada ter feito para resolver o problema, e à decisão do Governo de não deixar entrar no país mais camiões transportando cereais vindos dos vizinhos ucranianos. Os polacos têm sido dos aliados mais próximos de Zelensky e desde segunda-feira estão a decorrer negociações entre os dois governos para encontrar uma solução. "Há um obstáculo: nós, Polónia, precisamos de ter 100% de certeza que os produtos que entram na Polónia não fiquem cá. Foi isso que prometemos aos agricultores polacos e temos de trabalhar para encontrarmos os mecanismos apropriados", disse o novo ministro Robert Telus.
A Comissão Europeia anunciou em março o pagamento de 56.3 milhões de euros do fundo de reserva de crise aos governos da Polónia, Bulgária e Roménia, para que estes os distribuam aos agricultores mais prejudicados pela entrada dos cereais ucranianos no mercado. Agora, não deixou de criticar as medidas unilaterais de proibição de circulação dos cereais ucranianos, considerando-as "inaceitáveis". Mas abriu a porta ao reforço do apoio aos agricultores.
A Bulgária pode vir a ser o próximo país a juntar-se a estas proibições. "Já estamos há seis meses à espera que a Comissão Europeia tome uma decisão - o assunto foi levantado ao mais alto nível. O que é que podemos fazer? Deixar os agricultores búlgaros irem à falência?", questionou o ministro da Agricultura da Bulgária, Yavor Geshev, citado pelo Euractiv, estimando as perdas dos agricultores do país entre 400 e 450 milhões de euros, enquanto que as compensações pagas pela UE foram cerca de 16 milhões.
Antes das eleições legislativas de 2 de abril, os agricultores búlgaros cortaram a ponte do Danúbio entre a Bulgária e a Roménia para exigir a proibição das importações da Ucrânia. E o ministro juntou-se ao protesto, colocando-se em cima de um dos tratores que bloqueava a ponte.
O presidente búlgaro Rumen Radev tem-se oposto à ajuda militar do seu país à Ucrânia e ameaçou vetar eventuais sanções europeias ao setor nuclear russo. "Esta é uma guerra sangrenta, cada vez escutamos menos vozes pela paz, apenas se escutam ruídos de armas, apenas gritos de vitória, sem que nada possa definir neste momento o que significa vitória”, disse Radev, citado pela Lusa.
Também na Hungria e na Eslováquia, outros dois países a bloquearem a entrada de cereais ucranianos, os governos são dos mais renitentes em cortar laços com Moscovo. No caso eslovaco, as sondagens dizem que a maioria da população deseja que a Rússia vença a guerra.