O secretário-geral da NATO voltou a defender “um salto quântico” na capacidade militar da aliança. Segundo o Guardian, numa intervenção feita no think tank Chatham House, em Londres, Mark Rutte diz que a NATO precisa de quadruplicar as suas defesas aéreas e de mísseis e adquirir milhares de tanques e milhões de munições de artilharia “para implementar por inteiro os nossos planos de defesa”.
Para convencer os membros da NATO, Rutte argumenta que o “perigo [russo] não vai desaparecer mesmo quando acabar a guerra da Ucrânia”, razão pela qual propôs aos países aumentarem a sua despesa militar até aos 3% do respetivo Produto Interno Bruto, acrescido de mais 1,5% do PIB em infraestruturas militares e de cibersegurança. Este objetivo de 5% do PIB em despesa militar dos países da NATO foi uma das exigências de Donald Trump quando tomou posse para o segundo mandato. Na sua mensagem de felicitações a propósito do 10 de Junho, o chefe da diplomacia estadunidense Marco Rubio aproveita para repetir a exigência aos portugueses: “Contamos com Portugal e com todos os aliados da NATO para aumentarem o seu compromisso com os gastos em defesa até aos 5% do PIB”.
As palavras de Rutte tiveram resposta imediata do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acusando a NATO de “se apresentar a si própria como um instrumento de agressão e confrontação” e desvalorizando a ameaça que a Rússia representa para a Europa. “Os contribuintes europeus vão gastar o seu dinheiro para neutralizar uma ameaça que dizem vir do nosso país, mas que não passa de uma ameaça efémera”, disse Peskov.
Alemanha quer investir em bunkers
O cenário de um ataque da Rússia está também a ser usado por responsáveis alemães para defender o reforço das despesas militares-
“Durante muito tempo, houve uma crença generalizada na Alemanha de que a guerra não era um cenário para o qual nos tivéssemos de preparar. Isso mudou. Estamos preocupados com o risco de uma grande guerra de agressão na Europa”, afirmou o líder do Gabinete de Proteção Civil e Assistência em Desastres ao Süddeutsche Zeitung, também citado pelo Guardian.
Ralph Tiesler veio a público defender o reforço da rede de bunkers e abrigos à prova de bombas, dizendo que a Alemanha deve estar preparada para um ataque da Rússia nos próximos quatro anos.
Este responsável quer adaptar estações de metro, parques subterrâneos e caves de edifícios públicos em abrigos capazes de alojar um milhão de pessoas e promete apresentar detalhes deste plano no verão.
Dos cerca de dois mil bunkers do tempo da guerra fria na Alemanha, calcula-se que estejam operacionais cerca de 580, embora muitos precisem de grandes obras. São suficientes para acolher 480 mil pessoas, ou seja 0,5% da população. Tiesler compara a situação alemã com a da Finlândia, que tem 50 mil abrigos com espaço para acolher 85% da população daquele país.
Esquerda espanhola nas ruas contra o rearmamento
Cerca de duas mil pessoas manifestaram-se em Madrid no sábado contra o objetivo de aumento da despesa militar para 5% do PIB, uma meta que o governo de Pedro Sánchez tem resistido.
O protesto contra a militarização e o rearmamento juntou vários partidos da esquerda espanhola. O porta-voz da Izquierda Unida, Enrique Santiago, ameaçou sair do Governo caso este alinhe com esta “espiral brutal de rearmamento”.
Para a eurodeputada do Sumar Estrella Galán, que também integra o executivo, “mais armas trazem mais medo” mas também “mais lucros para os mesmos de sempre”. Embora não tenha ido tão longe como o porta-voz da IU, recusou o aumento da despesa militar defendendo que há que apostar em medidas que tragam mais direitos e justiça social.
Já a eurodeputada do Podemos, Irene Montero, não tem dúvidas de que o Governo irá acabar por aprovar o aumento da despesa com armas exigido por Trump e Rutte. Montero acusou o executivo de ter aumentado a despesa militar em 10.500 milhões de euros e que essa despesa já se está a traduzir em cortes na despesa social.
“Hoje sabemos que o governo, através de engenharia orçamental, está a mexer nas rubricas e que há menos 1.000 milhões na Educação, menos 3.000 milhões no Fundo de Liquidez Autonómica e menos 25% no Plano Corresponsáveis [contra a violência de género]. Os cortes já chegaram e o plano de rearmamento é um roubo aos cidadãos”, afirmou Irene Montero