Vila Franca de Xira

Contra o “inferno” do tráfego aéreo, população faz abaixo-assinado

24 de julho 2024 - 12:52

A NAV mudou o sistema de acesso ao aeroporto de Lisboa e desde aí a zona sul do concelho de Vila Franca de Xira tem sido afetada por um aumento “brutal” de tráfego e barulho, “um flagelo com intervalos, por vezes inferior a três minutos” “com início na madrugada e prolongando-se todo o dia até pelo menos à meia noite”.

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Avião.
Avião. Foto de Ana Guzzo/Flickr.

Quase mil pessoas, até ao momento em que esta notícia foi redigida, assinaram já uma petição dirigida à Assembleia da República “pela redução do ruído no concelho de Vila Franca de Xira provocado pela mudança das rotas dos aviões”.

Em causa está o aumento do ruído provocado na zona mais a sul do concelho de Vila Franca de Xira, nomeadamente Póvoa de Santa Iria, Forte da Casa, Vialonga e Alverca do Ribatejo pelo novo sistema implementado pela empresa pública que gere o tráfego aéreo, a NAV, relativamente ao acesso ao aeroporto de Lisboa.

Os signatários indicam que antes da mudança, ocorrida a 16 de Maio de 2024, os impactos dos voos eram reduzidos e só “esporadicamente” eram expostos ao ruído dos aviões. Depois disso, “o ponto de distribuição das rotas foi colocado junto da Póvoa de Santa Iria” e “constatou-se um aumento brutal de seis vezes no número de aviões que passaram a sobrevoar a zona (cerca de mais 75.000 aviões por ano, e com tendência para aumentar...)”, tendo o tráfego se tornado“contínuo”.

Afirmam ainda que é “um flagelo com intervalos , por vezes inferior a três minutos que acontece diariamente, com início na madrugada e prolongando-se por todo o dia até pelo menos à meia noite, dia após dia, castrando a possibilidade de descanso físico e mental da nossa população” e dizem que isso torna a sua vida “num inferno”, queixando-se do “impacto a médio/longo prazo na saúde pública, quer pelo ruído agressivo constante, muito provavelmente acima do que é permitido por Lei, como também pelas partículas ultrafinas (PUF) libertadas pelos aviões”. Pedem assim a reposição da situação anterior.

De acordo com o Público, a NAV Portugal remete para explicações dadas na data da mudança em que alegava razões “ambientais e de segurança” e afirmava que o novo sistema tinha como objetivo o “afastamento das rotas de chegada e das 'zonas de espera' das aeronaves das regiões mais populosas da região de Lisboa, colocando-as ainda a uma altitude mais elevada, reduzindo o impacto visual e sonoro do sistema aeroportuário como um todo”.

A empresa diz que só foi criada um novo ponto de descolagem “para oeste, em direção ao oceano” e que “as rotas sofreram alterações mínimas, alterações essas que em caso algum teriam um impacto da escala referida”. Para além de que a direção das descolagens depende “não de qualquer opção tomada pela NAV Portugal, mas sim de razões meteorológicas, já que tanto a aterragem como a descolagem devem ser feitas contra o vento e nenhuma alteração associada ao espaço aéreo pode influenciar este fator”.

As explicações não convencem a autarquia cujo presidente, Fernando Paulo Ferreira, também citado pelo mesmo órgão de comunicação social, que a NAV “não pode ter falado verdade, uma vez que da observação que fazemos não é verdade que as alterações sejam apenas na aproximação ao aeroporto. O que incomoda mais não são as rotas de acesso, são as rotas de descolagem. Ao contrário da ideia dada pela NAV, o que se verifica é que a rota a seguir não é a mesma e a altitude também não é a mesma. Ou se enganaram ou enganaram-nos. A realidade não corresponde ao que nos foi informado”. A autarquia informa ainda que pediu “mais esclarecimentos” e espera que a NAV tome medidas para minimizar os impactos.

O deputado municipal do Bloco de Esquerda, João Fernandes, também contestou a situação na última reunião da Assembleia Municipal, afirmando que “a população tem expressado a sua preocupação com os aumentos do ruído provocado pelos aviões que descolam do Aeroporto de Lisboa. O ruído persistente causa perturbações do sono e as partículas ultrafinas libertadas pelos aviões elevam o risco de várias doenças neurológicas e respiratórias”.

O bloquista liga o desvio de rotas com o aumento de tráfego no aeroporto que foi a moeda de troca do Governo para que a ANA aceitasse construir o aeroporto em Alcochete, passando por isso a haver “mais voos, menores intervalos entre descolagens, e até desrespeitando a Lei do Ruído”, alargando os prejuízos ambientais a “populações que não estavam a ser afetadas”.