França proibiu voos curtos mas votou exceções que minam impacto ambiental

27 de outubro 2023 - 21:31

Afinal, a medida aprovada corta apenas 2,6% das emissões de gases com efeito de estufa do voos domésticos franceses. Os ambientalistas dizem que isto “foi o resultado de um incessante trabalho de lóbi do setor aéreo francês” e de um governo “mais preocupado com o efeito publicitário”.

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Avião no Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Foto de Andrew E. Cohen/Flickr.
Avião no Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Foto de Andrew E. Cohen/Flickr.

Para Macron foi um “compromisso cumprido”. Para oposição, organizações ambientalistas e vários especialistas foi bem mais uma oportunidade perdida. A França aprovou uma lei que limita os voos comerciais de curta duração no interior do país para os quais haja uma alternativa de comboio que tenha duração de menos de duas horas e meia. Esta tinha vindo de uma “Convenção Cidadã do Clima” realizada em 2020 e que consistiu num grupo de 150 cidadãos que foram escolhidos por sorteio e que ficaram incumbidos de apresentar propostas sobre a redução da pegada de carbono do país.

O El Diário regressa esta quinta-feira à análise da lei para concluir que “a medida final aprovada na passada primavera tinha rebaixado sensivelmente a ambição da CCC, apesar de Macron se ter comprometido a aplicar “sem filtro” as propostas” que dela saíssem”. Em primeiro lugar, a proposta original estava destinada a voos em que houvesse uma alternativa de comboio de duração inferior a quatro horas e não as duas horas e meia aprovadas no parlamento francês que se aplicariam a oito rotas com 12.000 voos anuais.

Em segundo lugar, a redação final da lei estabeleceu várias exceções como a exclusão da limitação das rotas que implicassem uma mudança de comboio, das que não permitissem aos passageiros ficar pelo menos oito horas na cidade de destino antes de apanhar o último comboio de regresse ou daquelas em que a oferta ferroviária fosse simplesmente considerada “insuficiente”. Assim, com estas exceções, as ligações aéreas entre Paris Charles de Gaulle/Rennes, Paris Charles de Gaulle/Lyon e Lyon/Marsella mantiveram-se.

Enquanto que a Convenção Cidadã propunha o fim de 35.000 mil voos anuais, o aprovado acaba apenas com 5.000 num total de 200.000 voos domésticos, envolvendo meio milhão de um total de 16 milhões de passageiros deste tipo de voos. Contando em emissões de gases com efeito de estufa, estima-se que a medida tenha impacto apenas em 0,24% do total das emissões do transporte aéreo no país e só reduzirá em 2,6% as emissões anuais dos voos nacionais.

Entre os vários grupos ambientalistas que se posicionaram criticamente face ao aprovado está a Greenpeace França cujo porta-voz para a mobilidade, Thomas Gelin, afirmou ao jornal espanhol que “a redução foi o resultado de um incessante trabalho de lóbi do setor aéreo francês, combinado com a timidez do Governo, mais preocupado com o simbólico, o efeito publicitário, do que com uma medida verdadeiramente ambiciosa”. Por este termo, quer ele designar a proposta da sua organização que queria suprimir os voos doméstico para os quais existisse uma alternativa de comboio de duração de menos de seis horas, o que resultaria numa redução de 83,5% do total dos voos nacionais.

E a Réseau Action Climat estima que uma proibição de voos que tenham alternativa de comboio de duração de quatro ou menos horas iria reduzir em 33,2% as emissões de CO2.

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