Europeias

Húngaros votam para eurodeputados e autarcas, Orbán mantém tabu sobre qual o grupo da extrema-direita que irá integrar

04 de junho 2024 - 13:34

As sondagens colocam o Fidesz, no poder há 14 anos, como o grande vencedor nestas europeias. Mas o facto de serem simultâneas com as autárquicas pode reduzir a vantagem nos centros urbanos. Permanece a incógnita sobre qual o grupo de extrema-direita a que Orbán irá aderir no Parlamento Europeu.

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Orbán em comício de campanha
Orbán em comício de campanha. Foto Fidesz/Facebook

Este ano, as eleições europeias na Hungria vão coincidir, a 9 de junho, com as eleições autárquicas. Segundo a jornalista Kata Moravecz, dado as táticas utilizadas pelo governo de Orbán para limitar a representação democrática, esta pareceu ser mais uma eleição como as anteriores.

No entanto, tendo em conta que nalgumas cidades a oposição conseguiu vencer recentemente, por exemplo com Gergely Karácsony do partido verde “Diálogo para a Hungria” em Budapeste, a combinação das duas eleições pode diminuir os resultados de Órban nos meios urbanos.

Para além disso, a emergência de Peter Magyar como opositor político e a mobilização de milhares de pessoas em protestos contra o governo, introduziram novas dificuldades à campanha de Orbán.

As eleições europeias servem para aferir a capacidade de oposição dos outros partidos, sendo que o partido de Magyar, “Tisza” (Respeito e Liberdade), parece ser o único partido que conseguirá disputar votos com o Fidesz de Orbán. Espera-se que se junte ao PPE e consiga eleger três eurodeputados, registando 17 a 25% das intenções de voto.

Este é o primeiro sinal que o Tisza dará até às eleições legislativas previstas para abril de 2026. Contudo, se o Fidesz tiver um resultado inferior a 40%, torna-se plausível que a oposição consiga exigir eleições nacionais antecipadas.

Escolha de grupo por Orbán importante para políticas de aliança no Parlamento Europeu

As sondagens colocam o Fidesz, no poder há 14 anos, como o grande vencedor nestas europeias. A questão que impera é em que grupo se irá inserir no Parlamento Europeu. Em 2021, saiu do Partido Popular Europeu por divergências ideológicas e como protesto pelo processo europeu contra a violação húngara do Estado de Direito, passando a estar no grupo de eurodeputados não inscritos.

Em fevereiro deste ano, o grupo Identidade e Democracia (ID) mostrou querer acolher o Fidesz. Segundo o próprio Orbán, deve juntar-se ao grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR). No entanto, Orbán também dá o sinal de uma possível fusão entre os dois grupos de extrema-direita, defendendo que se Giorgia Meloni e Marine Le Pen “conseguirem trabalhar em conjunto, num único grupo ou numa coligação, serão uma força para a Europa. A atração da sua cooperação será muito forte. Poderá ser suficiente para remodelar a configuração da direita europeia, ou mesmo para suplantar o Partido Popular Europeu”.

Magyar destaca-se como opositor a Orbán

Em fevereiro, tornou-se público o indulto concedido ao diretor-adjunto de um lar de crianças que encobriu os casos de pedofilia do diretor da instituição durante anos. Após uma semana do escândalo, tanto a antiga presidente húngara e antiga aliada de Orbán, Katalin Novak, como a ministra da justiça que assinou o perdão e que encabeçava a lista do Fidesz às europeias, Judit Varga, apresentaram a sua demissão.

Milhares de pessoas saíram à rua em protesto contra o governo e em celebração destas demissões. Foi nesta altura que Peter Magyar, advogado, antigo diplomata e anteriormente próximo do Fidesz, emergiu como opositor de Orbán. Acusou o governo de corrupção disseminada e de sacrificar as únicas mulheres na política para manter o regime.

Já no final de março, Magyar tornou pública a gravação de uma conversa com Judit Varga, sua mulher na altura, em que esta conta os detalhes de como o Governo de Órban removeu documentos da investigação de corrupção do antigo secretário de Estado do Ministério da Justiça e do antigo chefe dos agentes de execução. Tem focado o seu discurso na necessidade de derrubar este governo e no combate à corrupção. Em abril convocou novos protestos contra Orbán, conseguindo mobilizar cerca de cem mil  pessoas

Tisza não rompe com braço de ferro com a Comissão Europeia

Em relação à posição ideológica de Magyar, Zsolt Enyedi, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Centro-Europeia, resume “O perfil ideológico do seu novo partido, Tisza, é amorfo, mas o rótulo de centro-direita parece adequado. Em contraste com o Fidesz, Magyar oferece uma versão não iliberal do conservadorismo, uma versão não paternalista do populismo e uma versão não etnocêntrica do “civilizacionismo”.

Enyedi explica que, enquanto Orbán chega a opor-se à eleição direta de eurodeputados, Magyar defende o enfraquecimento dos poderes do Parlamento Europeu, a “despolitização” da Comissão Europeia, isto é, avaliação de problemas de Estado de Direito, e a manutenção do direito ao veto nacional. Estas posições contrastam com a maioria das forças da oposição, as quais defendem um avanço na federalização europeia.

De lembrar que a Comissão Europeia tem recorrentemente levantado processos contra a Hungria de Orbán por desrespeito ao Estado de Direito e infrações a direitos humanos. Orbán tem recorrido ao direito de veto no Conselho Europeu para bloquear dossiers importantes como chantagem. E Magyar parece não querer romper com esta dinâmica.