EUA

O novo alvo de Trump: a “esquerda radical”

17 de outubro 2024 - 20:17

Depois de ter centrado a sua campanha nos imigrantes, o ex-presidente ataca agora a “esquerda lunática” e insinua que pode lançar o exército contra tal “inimigo interno”. Mas para ele a esquerda radical são os políticos mainstream democratas.

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Trump.
Trump.Foto de ERIK S. LESSER/EPA/Lusa.

O candidato presidencial norte-americano de extrema-direita, Donald Trump, tem visado nesta campanha sobretudo os migrantes, responsabilizando-os por todos os males do país, reais ou imaginados, e defendendo um plano de deportações massivas.

Este domingo, numa entrevista ao canal Fox News, parece ter descoberto um novo alvo: um “inimigo interno”. O bilionário ex-presidente apelou à intervenção da Guarda Nacional ou mesmo das forças militares no dia das eleições contra os seus opositores de “esquerda”.

Os entrevistadores do canal ultra-conservador tinham-lhe perguntado sobre se estaria preocupado com ataques terroristas ou de imigrantes no dia das eleições e Trump respondeu: “creio que o problema maior é o inimigo interno. Temos algumas pessoas muito más, temos pessoas doentes: lunáticos da esquerda radical”. Mas, para ele, este inimigo “deveria ser muito facilmente enfrentado, se for necessário, pela Guarda Nacional, ou se for realmente necessário pelos militares”.

Quem são estes esquerdistas perigosos? O ex-presidente dos EUA, identifica os “radicais” com os seus opositores mainstream como Adam Schiff, candidato a senador e ex-congressista, que tinha sido uma peça importante na tentativa de impeachment que correu pelas câmaras parlamentares dos EUA. Insistiu em chamar-lhe “lunático” e disse que pessoas como ele “são mais perigosas do que a China, a Rússia e todos esses países”.

A identificação dos democratas a “comunistas” já não é nova e as afirmações de domingo não foram um exagero momentâneo. Na terça-feira gravou uma sessão com mulheres em Cumming, Georgia, que foi para o ar esta quarta-feira, na qual classificava os políticos do Partido Democrata como “malvados” e “perigosos”. “Eles são marxistas e comunistas e fascistas e são doentes”.

A sua rival na atual corrida à presidência, a atual vice-presidente Kamala Harris não tardou em tentar tirar proveito, condenando as afirmações feitas avaliando que põem em risco a liberdade.

Numa declaração ao The Hill Ian Sams, porta-voz da campanha da democrata, sublinhou que as declarações deveriam “alarmar qualquer americano que ligue à sua liberdade e segurança”. E não deixou de lembrar que Trump já tinha dito antes que governaria como “um ditador desde o primeiro dia”, que ele “apela ao fim da Constituição”.

A campanha de Harris tinha vindo a provocar Trump nos últimos dias com a não revelação do seu relatório médico, tentando passar a mensagem de que não estará em condições para assumir a presidência.

Depois de ter dado voz às notícias falsas de que os imigrantes haitianos estariam a comer animais de estimação, Trump tem ultimamente tentado explorar os desastres naturais, acusando a atual presidência de adiar os esforços de auxílio às vítimas dos recentes furacões com finalidades políticas.

Continuando a não mostrar exames médicos, tentou rebater as acusações dos adversários, dizendo ter arrasado em testes cognitivos de que ninguém conhece a existência, e virando o bico ao prego lançou que as alergias de Harris são uma “situação perigosa”.

Numa intervenção no Clube Económico de Chicago esta terça-feira, garantiu que houve uma “transferência pacífica de poder” em 2021, que apenas uma sua apoiante morreu na invasão do Capitólio e que nenhum dos invasores tinha armas.

Depois do ímpeto inicial, as sondagens mostram uma aproximação entre as duas candidaturas e os democratas tocam insistentemente a tecla do ex-presidente estar “cada vez mais instável e desequilibrado”, de acordo com Kamala.

Esse tipo de intervenções tinha já feito com que mais de 200 ex-colaboradores de Trump durante a sua presidência tivessem declarado apoiar Harris. Já este mês 91 figuras de peso assinaram uma tribuna no New York Times a afirmar que o bilionário não está apto para desempenhar a presidência. E, num livro publicado recentemente pelo jornalista Bob Woodward, Mark Milley, ex-chefe do Estado-Maior durante a sua presidência, declarou que “nunca ninguém foi mais perigoso para este país como Donald Trump" e conclui: “agora dou-me conta que é um fascista total.”