Na madrugada de terça-feira, 13 de janeiro, vários cocktails molotov foram lançados contra a sede da ONG Global Aktion, em Copenhaga, provocando um incêndio no interior das instalações. Os moradores do prédio foram evacuados e não houve feridos, mas o local ficou destruído pelo incêndio. No chão junto à entrada do prédio, os autores do atentado pintaram mensagens como “o Sahara é marroquino” e “Parem de apoiar a Polisario”.
Em comunicado, a Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental (AAPSO) condenou o sucedido, afirmando que “este ataque suja as mãos de quem o mandou fazer” e que representa “uma agressividade crescente de quem quer impor a sua vontade a um povo cujos direitos são unanimemente reconhecidos pelas Nações Unidas e por todas as organizações internacionais, entre as quais o Tribunal de Justiça da União Europeia”).
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As mensagens de solidariedade vieram também de outras associações dinamarquesas, que ofereceram o seu apoio para que a Global Aktion possa continuar a funcionar enquanto está temporariamente sem sede.
“Toda a gente está muito abalada”, disse ao jornal DR o coordenador da ONG, Morten Nielsen, enquanto ainda fazia contas aos estragos: ”todo o escritório está destruído, todo o equipamento técnico como os computadores têm que ser substituídos. Estamos muito surpreendidos por terem agido desta forma contra nós. Graças a Deus, não são frequentes os ataques políticos incendiários na Dinamarca. O nosso principal pensamento hoje continua a ser o povo saharaui, que sofre desde há cinco décadas com a ocupação marroquina, o assédio e a intimidação”. Nielsen não tem dúvidas de que foi o empenhamento da Global Action no Sahara Ocidental que “irritou algumas pessoas. Mas nós não nos vamos deixar silenciar”, prometeu.
Esta não foi a primeira vez que a sede da Global Aktion é visada por manifestações à porta promovidas por cidadãos marroquinos contra a autodeterminação do Sahara Ocidental, ou por pichagens nas paredes e no chão da entrada do edifício, além de outras ameaças recebidas.
A Global Aktion foi fundada em 1978 e destacou-se na luta contra o apartheid sul-africano. O seu coordenador, Morten Nielsen, juntamente com o primeiro-ministro da altura, foram os dois únicos dinamarqueses presentes na tomada de posse de Nelson Mandela como Presidente da África do Sul. Hoje dedica-se às questões da justiça climática, a não militarização e o apoio aos direitos democráticos dos povos e aos movimentos de libertação.

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Em outubro passado, a Global Aktion questionou o governo dinamarquês sobre a aparente mudança na posição da diplomacia do país sobre a questão do Sahara Ocidental, quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros assinou um comunicado conjunto com a diplomacia marroquina que foi lido como um apoio ao plano de autonomia proposto por Marrocos em 2007 e que corresponderia a uma anexação de facto do Sahara Ocidental. Na resposta, o ministro Lars Løkke Rasmussen afirmou que a declaração afirma que o plano marroquino é uma boa base para uma solução, mas que esta teria de ser aceite por todas as partes.
Morten Nielsen lembrou que embora o ministro tenha dito que não se trata de uma mudança de posição, nunca antes a Dinamarca se tinha pronunciado de forma positiva sobre o plano marroquino. E acrescentou que o comunicado conjunto estava a ser apresentado pela imprensa marroquina como um apoio claro da Dinamarca à soberania de Marrocos sobre o Sahara Ocidental.