Argentina

Polícia de Milei carrega sobre manifestação de reformados

13 de março 2025 - 14:00

A polícia atacou a manifestação sem qualquer justificação, causando dezenas de feridos, um deles em estado muito grave. Houve mais de uma centena de detidos que os tribunais ordenaram que fossem libertados em nome do direito à manifestação. Os protestos estenderam-se pela noite em Buenos Aires.

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Repressão contra manifestação de apoio a reformados.
Repressão contra manifestação de apoio a reformados. Foto do X.

Os reformados argentinos lutam por um aumento de pensões face ao aumento do custo de vida e pelo restabelecimento de cobertura de medicamentos, entre outras medidas de combate ao empobrecimento generalizado causado pelas políticas do presidente Milei. Têm-se manifestado todas as quartas-feiras em frente ao Congresso, em Buenos Aires, por esta causa.

Só que a última destas manifestações, com a presença solidária de sindicalistas, de outros movimentos sociais, da esquerda e até membros de claques de futebol rivais como Boca Juniors, River Plate, Racing e Independiente e de representantes das “Coordinadoras de Hinchas”, dos grupos de Direitos Humanos do Futebol e do Futebol Feminista, foi fortemente reprimida pelas autoridades.

As forças policiais mobilizadas para o efeito, polícia federal, polícia da cidade, polícia da prefeitura, polícia aeroportuária, polícia motorizada e gendarmería, atacaram o protesto com gás lacrimogéneo, balas de borracha e jatos de água. A repressão começou “sem nenhuma justificação”, ainda antes do início oficial do protesto, sublinha o Página 12, e foi inicialmente explicada pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, por causa do seu protocolo que impede que manifestantes cortem o trânsito, o que é visto como um forma de limitar o direito à manifestação e livre expressão. Mais tarde, falava, sem provas, em “energúmenos”, “preparados para matar”, que pretendiam “tomar o Congresso” e regozijava-se pelos ataques à manifestação: “estamos a ganhar”.

Uma “vitória” que se traduz em cerca de 20 feridos. Um deles grave, o fotógrafo Pablo Grillo, atingido na cabeça por um cartucho de gás lacrimogéneo quando se tinha agachado para tirar uma fotografia. Ficou, segundo fontes oficiais, com múltiplas fraturas cranianas e danos cerebrais graves.

Também Beatriz Blanco, uma reformada de 87 anos, foi internada com traumatismo depois de ser atingida por um golpe na cabeça.

Houve ainda pelo menos 150 detidos, números da própria ministra. Depois de horas em que não foi possível identificar quem teria sido preso, nem o seu paradeiro, e sem que os seus advogados, que desconheciam as acusações, os conseguissem contactar, 114 acabaram por ser libertados por ordem do tribunal que considerou estar “em jogo um direito constitucional fundamental como é o direito ao protesto, a manifestar-se em democracia e à liberdade de expressão”.

Os protestos arrastaram-se durante a noite com 'panelaços', manifestações espontâneas de apoio aos reformados e bloqueios de ruas em pontos diferentes da capital argentina.

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