Flotilha para Gaza

Segundo barco atacado por drone, Israel bombardeia Gaza e ataca no Qatar

10 de setembro 2025 - 12:38

Mariana Mortágua contou a partir do barco em que está como se deu o ataque contra o Alma que causou um incêndio a bordo. Apesar das testemunhas e das imagens do engenho explosivo, as autoridades tunisinas recusam investigar e dizem ter sido “um isqueiro ou uma ponta de cigarro” a provocar o incêndio.

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Engenho explosivo lançado contra o Alma, barco da Flotilha para Gaza.
Engenho explosivo lançado contra o Alma, barco da Flotilha para Gaza.

Esta madrugada, foi atacado mais um barco da Flotilha que pretende romper o cerco à entrada de ajuda humanitária em Gaza. Depois do Família Madeira, onde, entre outros viaja a delegação portuguesa, desta vez foi o Alma, que tem bandeira do Reino Unido, a ser atacado por um drone pouco antes da meia noite enquanto estava atracado no porto de Sidi Bou Said . Mais uma vez o ataque provocou um incêndio, que foi apagado pela tripulação, e não houve feridos.

A organização da expedição humanitária emitiu um comunicado no qual volta a mostrar o seu empenho: “estes ataques repetidos acontecem durante a intensificação da agressão israelita contra os palestinianos em Gaza e constituem uma tentativa orquestrada de distrair e fazer descarrilar a nossa missão” mas a Global Sumud Flotilha “continua impávida”. Pelo que a “travessia pacífica para romper o assédio ilegal de Israel a Gaza e manter uma solidariedade inquebrável com o seu povo avança com determinação e resolução”.

A partir do Família Madeira viu-se o drone que sobrevoava o barco ao lado e que lançou um dispositivo que causou o incêndio. Mariana Mortágua contou no seu Instagram o que estava a acontecer, assegurando que o dispositivo incendiário foi lançado a partir do drone: “vimos o clarão e vimos o projétil a ser lançado”.

Apesar de haver imagens do sucedido, as autoridades tunisinas tentam fugir à responsabilidade de investigar. Imediatamente a seguir ao incêndio vieram dizer que “um isqueiro ou uma ponta de cigarro” tinham queimado coletes salva-vidas começando o fogo, jurando não poder ter sido um “ato hostil”.

Para além disso, a cantora e ativista Leila Hegazy denunciou que o dispositivo utilizado para o ataque “continua aqui pelo que ninguém pode negar o sucedido”. As imagens deste foram partilhadas pelas redes sociais da Flotilha.

Desde o início do dia até ao momento em que foi redigida esta notícia, os ataques israelitas mataram já 34 pessoas, 15 das quais numa zona de tendas de refugiados a ocidente da cidade de Gaza. Nas últimas 24 horas, mais cinco palestinianos, entre os quais uma criança, morreram de fome em Gaza. O número total vítimas mortais confirmadas da ofensiva israelita ascende agora a 64.605, sem contar com os milhares de desaparecidos nos escombros dos edifícios, e há 163.319 feridos.

Israel ordena evacuação total de Gaza

A Flotilha denuncia que para além da óbvia intimidação estamos perante uma manobra de distração porque, no terreno em Gaza, a ofensiva intensifica-se.

Israel pretende concretizar a ocupação da cidade de Gaza e fez um ultimato para que todos os civis que ainda aí se encontrem evacuem imediatamente a zona porque “a vossa permanência na cidade é considerada extremamente perigosa”. Continuam a viver na cidade quase um milhão de pessoas, de acordo com estimativas de agências da ONU, que não têm para onde se deslocar no contexto do genocídio em curso em todo o território. As as zonas designadas como “seguras” pelo exército israelita também são alvo de ataques e já estão repletas de refugiados sem condições mínimas de sobrevivência.

É a primeira vez que o exército sionista emite uma ordem de expulsão não para bairros ou zonas concretas mas para toda uma cidade. Avichay Adraee, o seu porta-voz, junta-lhe a ameaça de que as Forças de Defesa de Israel vão “operar na zona com muita força”.

O próprio primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tinha já feito o mesmo tipo de ameaça na noite da passada segunda-feira, notando que “nos últimos dois dias, derrubámos 50 torres terroristas”, ou seja Israel começou por atacar sistematicamente os edifícios mais altos da cidade, tendo já destruído pelo menos 30. Indicou que “isto é apenas o começo da operação terrestre”, terminando a sua mensagem com o mesmo tom de ameaça: “aos residentes de Gaza: foram avisados. Saiam daí.”

Israel tenta matar negociadores do Hamas no Qatar

Na tarde desta terça-feira, Israel tentou assassinar dirigentes do Hamas que estão em Doha, capital do Qatar, no contexto das negociações para tentar alcançar um cessar-fogo em Gaza. Depois de se terem sentido várias explosões, o primeiro-ministro israelita assumiu “toda a responsabilidade” e disse tratar-se de “uma operação totalmente israelita”.

Seis pessoas morreram nos bombardeamentos mas, de acordo com o Hamas, nenhum dos dirigentes do movimento que estavam nesse momento a discutir a proposta de Trump para um cessar-fogo estava entre estas vítimas.

O Qatar condenou “energicamente” o “ataque cobarde israelita” que classificou como “criminoso” e denuncia “uma flagrante violação de todas as leis e normas internacionais e uma grave ameaça para a segurança dos cataris e dos residentes no Qatar”.

Majed Al Ansari, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país, assegurou que as autoridades “começaram de imediato a responder ao incidente e a tomar as medidas necessárias para conter as suas consequências e garantir a segurança” das populações. Ao mesmo tempo adianta que o seu governo não irá “tolerar esta conduta imprudente de Israel, a sua contínua manipulação da segurança regional, nem nenhuma ação que atente contra a sua segurança e soberania”.

Fontes oficiais israelitas, do outro lado, fizeram saber aos órgãos de comunicação social do país que o ataque tinha sido autorizado ou pelo menos comunicado aos EUA, apesar de Trump não se ter mostrado muito agradado com esta iniciativa. A porta-voz da presidência norte-americana, Karoline Leavitt, confirmou que Trump tinha sido informado mas tentou distanciá-lo do ataque, afirmando que “bombardear unilateralmente o Qatar, uma nação soberana e aliada dos Estados Unidos, que trabalha arduamente e assume corajosamente riscos junto connosco para negociar a paz, não contribui aos objetivos de Israel nem dos Estados Unidos”. Declarações que se seguem às ameaças de Trump ao Hamas para que aceite a proposta de cessar-fogo norte-americana: “este é o meu último aviso, não haverá outro”, tinha lançado no domingo.

O próprio presidente dos EUA veio depois à sua rede social escrever que a decisão não foi sua mas de Netanyahu e que tinha tentado avisar o Qatar do ataque mas “infelizmente, era tarde demais”

Entre as muitas reações de condenação ao ataque, António Guterres, secretário-geral da ONU, condenou também a “flagrante violação da soberania e da integridade territorial do Qatar”, destacando que este país tem desempenhado um papel determinante na tentativa de alcançar um cessar-fogo. Aos jornalistas, o líder das Nações Unidas insiste que “todas as partes devem trabalhar para conseguir um cessar-foto permanente, não para o destruir”.