Friedrich Merz, o dirigente da CDU alemã e principal favorito às próximas eleições legislativas, apresentou propostas anti-imigração consideradas próximas das da extrema-direita, alterando as políticas anteriores do seu partido neste tópico. Para ele, “estamos a enfrentar as ruínas de uma política de asilo e de imigração de dez anos na Alemanha que foi mal conduzida”, incluindo assim nas suas críticas parte do longo período de Angela Merkel como chanceler.
O dirigente dos “cristãos democratas” procura ver implementado um plano de cinco pontos sob a retórica de querer reduzir a imigração irregular e melhorar a segurança do país. Na prática, propõe controlos de fronteira permanentes no interior da União Europeia para quem procure asilo, violando o acordo de Schengen, fechando as portas a todos os quem venham requerer o estatuto de refugiado.
Segundo a sua nova retórica “há 40.000 requerentes de asilo que precisam de ser deportados” e “um político local disse-me este fim de semana que são bombas-relógio a andarem pelas nossas cidades e comunidades”.
Dentro da própria CDU há vozes críticas, com um membro da sua comissão executiva a declarar ao jornal Die Tagesspiegel que “esta manobra é um suicídio político”.
E, em oposição às medidas, SPD e Verdes contrapõem que estas violam a constituição e o Direito europeu. Mas a ministra do Interior do seu governo, Nancy Faeser, não deixou de prometer medidas em sentido semelhante, com a atribuição de mais poderes à polícia para patrulhar fronteiras, vendo nisso uma forma de “agir a partir do centro democrático” sobre a questão.
Contra a “perceção” de uma política de fronteiras laxista, o seu ministério rebate que só nos últimos 15 meses, desde que os controlos fronteiriços foram parcialmente repostos, as autoridades alemãs recusaram a entrada a 43.500 pessoas. Num ano, retorquiu, os pedidos de asilo desceram 111.000 e a migração ilegal desceu 34% e o número de deportados aumentou 22%.
Também a Amnistia Internacional, por intermédio da sua secretária-geral alemã, Julia Duchrow, se opôs às propostas que considera “contrárias aos direitos humanos e diametralmente opostas às lições tiradas dos horrores do Holocausto, do nacional-socialismo e de duas guerras mundiais”.
Como é provável que as medidas acabem por passar com os votos do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha), Merz, para além de dizer que procurará aprovar a proposta nem que seja com os voto deste, tentou virar o bico ao prego e dirigiu ao SPD, Verdes e Liberais o apelo para as aprovarem de forma a que não hajam maiorias que “ninguém quer”.
Matthias Miersch, secretário-geral do SPD, contrapõe que, com este plano, está em causa a política de “cordão sanitário” que implicava que nenhum partido do espaço democrático cooperasse com a extrema-direita. O que se está a passar, alega, “não tem precedentes na história do pós-guerra alemão”, é “uma rutura de princípios sem precedentes”.
Apesar de a CDU garantir que não romperá o cordão sanitário, a líder da AfD, Alice Weidel, secundou quem disse o contrário nas suas primeiras reações ao anúncio dos conservadores. Mais tarde, já com o texto completo nas mãos, decidiu mudar de tom e voltar à campanha, afirmando que afinal a CDU não quer uma verdadeira mudança.
Na verdade, seria impossível que a proposta de endurecimento da política migratória agradasse à AfD, atualmente o segundo partido com mais intenções de votos nas sondagens e que passou a falar explicitamente de “remigração”, ou seja de expulsão dos migrantes que estejam no seu país.
Não lhe terá também agradado a parte do texto incluída por Merz para se distanciar dela, na qual se pode ler que “a AfD instrumentaliza os problemas e os temores que surgiram com a imigração massiva e ilegal para semear xenofobia e difundir teorias conspirativas”. Outros veem nesta parte do texto mero aproveitamento para tentar não se confundir com a extrema-direita e sublinham que a instrumentalização dos medos é a base das propostas da CDU, feitas à boleia da comoção causada por um crime na semana passada, em Aschaffeburg, cometido por um requerente de asilo afegão. As autoridades alemãs estão a ser acusadas de não terem avaliado devidamente o perigo que este implicava por causa de uma doença psiquiátrica de que padecia.
Quem concorda também com a proposta são os liberais do FDP cujo líder, Christian Lindner, disse na Deutschlandfunk que não lhe interessava como a AfD votasse. Também concorda com elas o BSW, um partido que se afirma de esquerda e cujos principais quadros saíram do Die Linke, incluindo a sua cabeça de cartaz Sahra Wagenknecht, que dá o nome ao projeto, mas que adota posições conservadoras em temas migratórios, entre outros.
Na sua página do X, Wagenknecht diz que as propostas da direita “para controlar a migração” são “sensatas” e que as vai apoiar. Também ela fala na exploração dos “medos da população” que, na sua versão, serve “para minar direitos fundamentais e nos levar a um estado de vigilância”.
Friedrich #Merz macht ein paar sinnvolle Vorschläge zur Kontrolle der #Migration, die wir unterstützen werden. Gleichzeitig finden wir es unverantwortlich, wie er die Ängste in der Bevölkerung ausnutzt, um Grundrechte auszuhebeln und uns in einen #Überwachungsstaat zu führen.… pic.twitter.com/tbmS2nsMiT
— Sahra Wagenknecht (@SWagenknecht) January 27, 2025