Aminetu Haidar, conhecida ativista pela independência do Sahara Ocidental, viu negada a renovação da sua autorização de residência em Espanha. Ela tem essa autorização desde há 16 anos e sempre a renovou periodicamente. A última caducou em janeiro do ano passado e o pedido de renovação deu entrada por via eletrónica no mês seguinte, dentro do prazo de 90 dias. Mas a resposta nunca chegou e Aminetu, com residência em Jaén, pediu em maio a transferência do processo para Madrid, onde estava a morar para tratar de problemas de saúde.
Segundo a advogada da ativista contou ao El Pais, a transferência foi aprovada no próprio dia, mas a resposta só chegou em maio deste ano e era negativa. O argumento do sistema foi que o pedido tinha dado entrada em maio - a data da transferência e não do pedido original - pelo que o prazo de 90 dias a contar desde janeiro já teria passado. "Recorremos, mas para nossa surpresa, disseram-nos que não", afirma a advogada, acrescentando que "temos todos os papéis necessários, mas está claro que esta é uma decisão política".
Numa conferência de imprensa, o delegado do governo em Madrid, Francisco Martín, confirmou que a autorização de residência foi recusada porque "não há outro remédio". "O que a Delegação faz é cumprir os regulamentos, mas se as pessoas que apresentam o pedido não os cumprem, não há outra opção senão recusar o pedido", afirmou, acrescentando que se trata do mesmo procedimento que em qualquer outro caso.
Aminetu Haidar tem uma leitura diferente do que se passou com o seu processo: "Posso dizê-lo claramente: hoje sinto-me mais uma vez vítima da cumplicidade hispano-marroquina, a mesma cumplicidade que sofri em 2009 durante o tempo do primeiro-ministro Zapatero e do ministro Moratinos, que me deixaram entrar em Espanha contra a minha vontade e sem passaporte, violando todas as regras da lei, incluindo a lei espanhola", afirmou ao El Independiente. Nesse ano, Aminetu esteve 32 dias em greve de fome no aeroporto de Lanzarote, depois de as autoridades marroquinas a impedirem de entrar no país por ter escrito "saharaui" e não "marroquina" no formulário de entrada. Graças à onda de solidariedade internacional, que incluiu a visita do eurodeputado bloquista Miguel Portas, conseguiu voltar para a sua casa em El Aiun.
A ativista não põe de parte voltar a protestar e diz que "a única coisa que me pode calar é a morte". Espera que o Governo de Espanha "retifique o seu erro". Lembra que em 2009 o Governo espanhol lhe ofereceu nacionalidade e uma casa para poder trazer os seus filhos, mas que recusou porque "os meus princípios não se vendem. O que peço é para regressar à minha casa, à minha pátria viva ou morta". E diz que não confia nos partidos espanhóis, que "quando chegam à Moncloa mudam totalmente de postura", embora deposite esperança na deputada de ascendência saharaui do Sumar, Tesh Sidi, que "tem de saber que tem muita responsabilidade". Aminetu acusa o governo socialista de estar a recusar vistos a ativistas saharauis e pede também explicações por esse facto.
No Parlamento e no Senado espanhóis, o Bloco Nacionalista Galego apresentou iniciativas para que o Governo retifique a sua decisão "que causou repulsa, indignação e incompreensão no conjunto da sociedade", dado que a ativista que em todo o mundo é um símbolo da resistência do povo saharaui, além da sua trajetória política, "sofreu pessoalmente a repressão, torturas, prisões arbitrárias e até um desaparecimento forçado", recordam.
«Onte coñecemos tamén que o Goberno denega o permiso de residencia á activista saharauí Aminatou Haidar após 16 anos. É unha decisión inxusta e deshumana que deben rectificar.»
Chega xa de apoiar a ocupación ilegal de Marrocos do Sáhara. pic.twitter.com/an7VZViHmT
— BNG Congreso - Senado (@bngcongreso) December 20, 2023
Também o deputado da Izquierda Unida Enrique Santiago e a deputada saharaui Tesh Sidi, de Más Madrid, perguntaram ao executivo por que razão aplicou um critério diferente do seguido até agora com esta reconhecida ativista da libertação do Sahara Ocidental.
Hoy he presentado junto a @EnriqueSantiago una batería de preguntas al gobierno sobre esta vergonzosa decisión.
La población de origen saharaui sufre grandes trabas administrativas en nuestras instituciones. La política de la cancelación. https://t.co/4bhAjsFLIP
— Tesh Sidi (@teshsidi) December 22, 2023