A política de expulsão de migrantes dos EUA tem um lado lucrativo menos conhecido, o dos centros de detenção que estão a ganhar milhares de milhões de dólares.
Assim que assumiu a presidência, Donald Trump tratou de colocar em curso as medidas de perseguição que tinha anunciado. Mas se estas se saldaram por mais 32.000 migrantes presos apenas nos primeiros 50 dias de mandato, o número efetivo de expulsões anda ainda a par com o que o seu predecessor democrata no cargo efetuava. É o que explica a RFI, que acrescenta que os processos de expulsão demoram tempo a organizar e que vários países têm recusado receber os migrantes. Entretanto, os centros de detenção do país vão-se enchendo. E os bolsos dos seus donos também.
Tal como muitas prisões são privadas naquele país, também a maioria destes centros o são. E há dois gigantes do setor, o GEOgroup e o CoreCivic. O primeiro opera ainda na Austrália e na África do Sul, mas o “essencial da sua atividade faz-se nos Estados Unidos”, escreve a rádio francesa, que acrescenta que “o seu volume de negócios anual é de milhares de milhões de dólares”, são cotadas em bolsa e o seu valor disparou mesmo imediatamente a seguir à eleição de Trump na expetativa, confirmada, de que o negócio iria dar agora ainda mais rendimentos.
Tom Homan, designado “czar das fronteiras” por Trump, um termo informal que designa o responsável governamental por uma determinada área, e que neste caso corresponde oficialmente ao cargo criado pelo atual presidente de “Diretor Executivo Associado de Operações de Remoção e Aplicação da Lei da Casa Branca”, anunciou que pretende duplicar o número de camas disponíveis.
Isto já se está a traduzir em contratos como a abertura de um centro de detenção do GEOgroup em Nova Jérsia, que lhe renderá 60 milhões de dólares por ano, pelo menos durante os próximos 15 anos, ou a abertura de um do CoreCivic no Texas com lugar para 2.400 pessoas.
EUA
Negócios em quebra e medo: o impacto da política de Trump nas comunidades portuguesas
Não constituirá assim grande surpresa a notícia da ABC News de que estas empresas contribuíram para a campanha presidencial de Trump com pelo menos um milhão de dólares. Até agora, estas costumavam dividir os donativos de campanha entre republicanos e democratas mas esta campanha marcou o fim dessa tradição, passando o dinheiro a ir quase exclusivamente para as mãos de Trump.
Os centros de detenção de migrantes têm sido notícia ao longo dos anos por várias inspeções terem revelado condições de insalubridade, de falta de acesso à saúde e por imporem regimes de trabalho forçado aos migrantes.