Na missiva, a que o Esquerda.net teve acesso, mais de 150 profissionais de saúde lembram que os “ataques intencionais e sistemáticos” por parte do estado de Israel a infraestruturas civis já levaram ao assassinato de 14 mil pessoas, das quais 5.600 (40%) são crianças. E que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o estado de Israel atacou mais de 164 infraestruturas médicas e foram mortos mais de 220 profissionais de saúde em Gaza.
Os signatários relembram ainda que “a violência que o estado de Israel exerce sobre o povo palestiniano não começou no passado dia 7 de outubro”. “Começou há mais de 75 anos, aquando da fundação do estado colonial de Israel e com a ocupação ilegal da Palestina, reconhecida como tal pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desde então, agravado pelo bloqueio total imposto a Gaza em 2007, tem sido limitado severamente o acesso daquela população a elementos de sobrevivência essenciais como água limpa, medicamentos e material médico, condenando a população de Gaza a doenças, de outro modo, preveníveis e tratáveis. Múltiplas organizações internacionais de profissionais de todo o mundo, como a OMS e a Médicos Sem Fronteiras, têm estado no terreno para tentar mitigar as consequências da política de apartheid de Israel sobre Gaza”, escrevem.
Os profissionais de saúde que assinam esta carta afirmam que não irão “compactuar com o silêncio nem com o apoio a crimes de guerra que massacram e punem coletivamente toda a população de Gaza” e que “não ficarão inertes perante a violência e o assassinato intencional de colegas de profissão e destruição de hospitais”.
A missiva é endereçada às diferentes ordens profissionais da saúde para que se posicionem, condenando a violência e a destruição que o estado de Israel está a infligir contra o povo palestiniano, principalmente, mas não só, em Gaza; bem como os ataques sistemáticos a estruturas como hospitais, centros de saúde e ambulâncias, bem como, o assassinato de profissionais de saúde, relembrando que o direito internacional proíbe o ataque deliberado a estruturas médicas e exige que os profissionais de saúde sejam respeitados e protegidos durante os conflitos.
Os profissionais de saúde exortam ainda as diversas ordens a apelarem ao cessar-fogo definitivo e incondicional, bem como, o acesso imediato e sem restrições à ajuda humanitária em Gaza; e ao fim do bloqueio imposto em Gaza desde 2007, e do regime de apartheid imposto pelo estado de Israel desde 1948, que limita o acesso a direitos fundamentais, como a acesso à saúde, a cidadãos palestinianos.
Os signatários pedem ainda uma declaração de solidariedade e apoio a colegas profissionais de saúde em Gaza; e que seja exercida pressão política junto do Ministro da Saúde e do Governo Português para que haja a defesa inequívoca e imediata do cessar-fogo, a condenação clara dos ataques do estado de Israel em Gaza, o reconhecimento dos crimes e violações do direito internacional a ser cometidos, bem como, a aplicação de medidas de boicote e sanções ao estado de Israel.
Luísa Russo, uma das subscritoras, adiantou à agência Lusa que a carta surgiu de um grupo de profissionais de saúde ativistas no Coletivo pela Libertação da Palestina e no coletivo Humans Before Borders, alguns dos quais já estiveram em território palestiniano.
"O nosso principal objetivo é que as ordens profissionais de saúde tomem uma posição em relação ao que se passa, porque não conseguimos ficar indiferentes ao facto de nesta guerra que está a acontecer em Gaza, os profissionais de saúde e os hospitais estarem a ser alvos", destacou Luísa Russo.