O caso dos aviões militares exportados dos Estados Unidos para Israel e que fizeram escala na Base das Lajes conheceu esta sexta-feira algumas reviravoltas. A versão inicial apontava para uma informação incompleta de um serviço do Ministério da Defesa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que terá permitido esta passagem. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros veio agora assumir a responsabilidade pela “falha de procedimento”, ilibando Nuno Melo. Luís Montenegro também veio atribuir responsabilidades a Paulo Rangel neste caso.
Antes do assumir de culpas de Rangel, Joana Mortágua tinha pedido a demissão do ministro da Defesa e alertado que “isto configura a possibilidade e o risco de Portugal ser acusado de cumplicidade com o genocídio do povo palestiniano” e também “viola o embargo militar que Portugal tem com Israel”.
Ao início da tarde o primeiro-ministro veio desvalorizar o que chamou de “episódio em que aeronaves norte-americanas fizeram uma escala na Base das Lajes”, lamentando “que tenha havido um erro processual no início quando a questão foi suscitada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros”.
“E não há mais nada a dizer sobre isso porque tudo o resto foi uma tramitação absolutamente normal. Não percebo mesmo o porquê destas reações tão radicalizadas a pedir demissões de ministros”, afirmou Luís Montenegro.
Para o primeiro-ministro, “a única circunstância que não devia ter acontecido foi que houve uma primeira informação que não era completamente exata, a um jornal que por acaso até não era português”.
O que agora diz ser uma “tramitação absolutamente normal” contrasta com o compromisso que Montenegro deixou ao Parlamento em outubro do ano passado. Questionado pela deputada Mariana Mortágua sobre a utilização do espaço aéreo português para voos com material militar com destino a Israel, gabou-se por o seu governo ter tomado “uma decisão que não tem paralelo, que me lembre, na nossa história democrática”, de proibir essa passagem.
“E o nosso princípio vai ser seguido se forem feitos novos pedidos sobre o mesmo contexto e o mesmo enquadramento”, prometeu Luís Montenegro no ano passado aos deputados, assumindo o compromisso do Governo “com a contenção de uma escalada de violência que é, de facto, um massacre do ponto de vista humanitário” e a vontade de “tentarmos ser parte ativa daqueles cujas ações podem ter como consequência a dissuasão da violência e um caminho para que haja efetivamente paz”.
Atitude de Israel com os sequestrados é “absolutamente degradante”
Questionada sobre os membros da flotilha humanitária para Gaza que foram sequestrados pelos militares israelitas, Joana Mortágua destacou que o Bloco e as famílias dos detidos estão “chocados” com o vídeo que foi divulgado pelo Estado sionista.
“O governo israelita tinha prometido ao governo português que ia tratar toda a gente, todos os presos, ilegalmente presos, com dignidade. Aquilo que aconteceu é que esses presos foram expostos, obrigados a sentarem-se no chão e expostos para que o ministro mais violento ou um dos mais violentos do governo israelita os insultasse numa língua estrangeira”, disse.
Para a dirigente bloquista esta é “uma atitude absolutamente degradante, uma tentativa de desumanização daquelas pessoas”. “Em nenhum Estado de Direito, um ministro vai a um centro de detenção insultar presos, sobretudo tendo em conta que estão ilegalmente presos”, sublinhou Joana Mortágua.