Genocídio

Montenegro desmente Montenegro: Governo cedeu base das Lajes para abastecimento militar a Israel

03 de outubro 2025 - 22:09

O Governo permitiu que passassem por Portugal aviões que iam ser exportados para Israel. Luís Montenegro diz que foi uma “tramitação absolutamente normal”, apesar de no ano passado ter dito ao Parlamento que não iria permitir a passagem de material militar com destino a Israel. Joana Mortágua diz que “isto configura o risco de Portugal ser acusado de cumplicidade com o genocídio do povo palestiniano”.

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Luís Montenegro e os F-35 que passaram pela Base das Lajes com destino a Israel
Luís Montenegro e os F-35 que passaram pela Base das Lajes com destino a Israel

O caso dos aviões militares exportados dos Estados Unidos para Israel e que fizeram escala na Base das Lajes conheceu esta sexta-feira algumas reviravoltas. A versão inicial apontava para uma informação incompleta de um serviço do Ministério da Defesa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que terá permitido esta passagem. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros veio agora assumir a responsabilidade pela “falha de procedimento”, ilibando Nuno Melo. Luís Montenegro também veio atribuir responsabilidades a Paulo Rangel neste caso. 

Antes do assumir de culpas de Rangel, Joana Mortágua tinha pedido a demissão do ministro da Defesa e alertado que “isto configura a possibilidade e o risco de Portugal ser acusado de cumplicidade com o genocídio do povo palestiniano” e também “viola o embargo militar que Portugal tem com Israel”.

Ao início da tarde o primeiro-ministro veio desvalorizar o que chamou de “episódio em que aeronaves norte-americanas fizeram uma escala na Base das Lajes”, lamentando “que tenha havido um erro processual no início quando a questão foi suscitada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros”.

“E não há mais nada a dizer sobre isso porque tudo o resto foi uma tramitação absolutamente normal. Não percebo mesmo o porquê destas reações tão radicalizadas a pedir demissões de ministros”, afirmou Luís Montenegro.

Para o primeiro-ministro, “a única circunstância que não devia ter acontecido foi que houve uma primeira informação que não era completamente exata, a um jornal que por acaso até não era português”.

O que agora diz ser uma “tramitação absolutamente normal” contrasta com o compromisso que Montenegro deixou ao Parlamento em outubro do ano passado. Questionado pela deputada Mariana Mortágua sobre a utilização do espaço aéreo português para voos com material militar com destino a Israel, gabou-se por o seu governo ter tomado “uma decisão que não tem paralelo, que me lembre, na nossa história democrática”, de proibir essa passagem.

“E o nosso princípio vai ser seguido se forem feitos novos pedidos sobre o mesmo contexto e o mesmo enquadramento”, prometeu Luís Montenegro no ano passado aos deputados, assumindo o compromisso do Governo “com a contenção de uma escalada de violência que é, de facto, um massacre do ponto de vista humanitário” e a vontade de “tentarmos ser parte ativa daqueles cujas ações podem ter como consequência a dissuasão da violência e um caminho para que haja efetivamente paz”.

Atitude de Israel com os sequestrados é “absolutamente degradante”

Questionada sobre os membros da flotilha humanitária para Gaza que foram sequestrados pelos militares israelitas, Joana Mortágua destacou que o Bloco e as famílias dos detidos estão “chocados” com o vídeo que foi divulgado pelo Estado sionista.

“O governo israelita tinha prometido ao governo português que ia tratar toda a gente, todos os presos, ilegalmente presos, com dignidade. Aquilo que aconteceu é que esses presos foram expostos, obrigados a sentarem-se no chão e expostos para que o ministro mais violento ou um dos mais violentos do governo israelita os insultasse numa língua estrangeira”, disse.

Para a dirigente bloquista esta é “uma atitude absolutamente degradante, uma tentativa de desumanização daquelas pessoas”. “Em nenhum Estado de Direito, um ministro vai a um centro de detenção insultar presos, sobretudo tendo em conta que estão ilegalmente presos”, sublinhou Joana Mortágua.