Combustíveis fósseis

Ocidente já pagou três vezes mais pelo petróleo e gás russos do que deu à Ucrânia

30 de maio 2025 - 19:00

Apesar dos embargos anunciados pela Europa e pelos EUA, as vendas de combustíveis fósseis russos para estes países continuam fortes e a financiar a máquina de guerra que permite a invasão da Ucrânia.

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Petroleiro russo faz entrega na Shell em 2011. Foto de joecabby2011/Flickr.
Petroleiro russo faz entrega na Shell em 2011. Foto de joecabby2011/Flickr.

Os dados que apontam neste sentido são já conhecidos mas desta feita foi a BBC que os compilou. A conclusão também já tinha sido noticiada várias vezes mas é convenientemente esquecida: os países ocidentais que se definem como aliados da Ucrânia pagam mais à Rússia pelos seus hidrocarbonetos, petróleo e gás, do que dão à Ucrânia em ajuda. E a diferença não é pouca. A soma embolsada pelas empresas russas é o triplo do que o desembolsado pelos países ocidentais em ajuda para o país invadido.

Assim, na prática o Ocidente continua a financiar a máquina de guerra que permite a invasão da Ucrânia pelo Estado liderado por Putin. Isto porque gás e petróleo representam cerca de um terço das verbas do Estado russo e mais de 60% das suas exportações.

As sanções decretadas por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, em que os dois primeiros teriam supostamente banido o gás e o petróleo russos, a terceira teria banido apenas o petróleo desta proveniência, parecem ser assim, para o dizer o menos, ineficazes.

Desde o início da invasão em grande escala e até 29 de maio, os países “sancionadores” gastaram mais de 883 mil milhões de euros na importação de combustíveis fósseis russos. Se contarmos apenas os estados-membros da União Europeia foram 209 mil milhões de euros. O gás russo continuou a chegar à UE por gasoduto, até que a Ucrânia cortou a circulação em janeiro deste ano, mas passa agora através da Turquia em quantidades crescentes. E o crude continua a chegar ainda por oleodutos até à Hungria e Eslováquia. O Centro de Investigação em Energia e Ar Limpo mantém mesmo um Russia Fossil Tracker onde se pode ir acompanhando a evolução destes gastos.

Também as estimativas russas apontam no mesmo sentido: as exportações de gás para a Europa terão aumentado até 20% em 2024, com as exportações de gás natural liquefeito a atingirem níveis recorde.

Os especialistas alertam que, para além das vendas diretas, o petróleo russo também chega à Europa através daquilo a que chama a “brecha da refinação” que faz com que este seja diluído com petróleo bruto de outros países, por exemplo turco ou indiano. Segundo o CREA, só três destas fontes terão usado pelo menos 6,1 mil milhões de euros de petróleo bruto russo para fabricar produtos para países que impõem sanções.

Outra via de fazer os combustíveis fósseis russos passar para o Ocidente é a chamada “frota fantasma” de petroleiros russos que usa uma série de esquemas complexos para evitar a associação a empresas sancionadas.

Vaibhav Raghunandan, analista do CREA, sublinha ao canal público britânico que seria fácil fechar a torneira do GNL russo: este representa só 5% do consumo total de gás europeu mas corresponde a cerca de metade das exportações totais de GNL russo.