EUA

Sionistas contratam empresas tecnológicas para identificar manifestantes pró-Palestina

31 de março 2025 - 14:15

Grupos de ódio sionistas estão a alimentar a indústria do “reconhecimento facial” de forma a assediar manifestantes contra o genocídio. Mas também governos e polícias recorrem a estas empresas privadas donas de bases de dados com milhares de milhões de perfis recolhidos sem consentimento.

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Manifestação pró-Palestina em Nova Iorque.
Manifestação pró-Palestina em Nova Iorque. Foto de Eden, Janine and Jim/Flickr.

A vaga de protestos nos EUA contra o genocídio em Gaza, sobretudo protagonizados por estudantes, deu azo a campanhas de perseguição que vão além dos mais recentes processos de expulsão de estudantes estrangeiros impulsionados pelo presidente Trump.

Grupos sionistas têm utilizado a estratégia de identificar manifestantes e divulgar a sua informação pessoal para assediá-los. Esta prática, conhecida como “doxing”, foi comum desde o início do movimento. Mas, de acordo com a Associated Press, esta passa também por alimentar um negócio. Estes coletivos contratam empresas tecnológicas com o objetivo descobrir quem são as pessoas que tentaram proteger a sua privacidade por medo de represálias. Várias destas organizações pedem aos seus membros e simpatizantes que denunciem estrangeiros que tenham estado envolvidos no movimento contra o genocídio para passar informação ao governo Trump e há mesmo aquelas que se gabam de que os nomes de algumas pessoas identificadas com ferramentas digitais também foram transmitidos com o objetivo de os fazer expulsar.

A agência noticiosa norte-americana conta o caso de uma manifestante que participou num comício contra o genocídio sionista em Nova Iorque, em janeiro. Acabou por ser apanhada em imagens num vídeo. Apenas se viam os seus olhos porque estava de máscara e com um lenço. Ainda assim, alguns dias depois o seu rosto descoberto foi divulgado, assim como o seu nome e o seu local de trabalho. A rapariga acabou por ser despedida, apesar da AP não ter conseguido verificar se o despedimento ocorreu devido a esta situação.

De qualquer forma, a Stellar Technologies, empresa que fez o “serviço” de reconhecimento facial, gabou-se nas redes sociais do feito, escrevendo: “meses em que esconderam a cara foram por água abaixo!” Eliyahu Hawila, engenheiro informático que criou o software NesherAI que expôs esta pessoa, admitiu àquela agência noticiosa a sua ligação à organização sionista ultra-conservadora, Betar. Diz que já não trabalha com ela atualmente mas que continua a passar informação de manifestantes a este género de grupos, justificando: “se quiserem argumentar que isto é liberdade de expressão, podem dizer isso, tudo bem, podem dizer isso. Mas isso não significa que escapem às consequências da sociedade depois de o dizerem.”

A externalização da vigilância

Tipos semelhantes de software têm sido utilizado em muitos mais casos. Só que o negócio do reconhecimento facial não se baseia só no dinheiro deste grupos de ódio sionista. Também o governo e as autoridades de segurança recorrem a este tipo de empresas.

Corre atualmente um processo colocado por um grupo de ativistas da Califórnia contra a empresa ClearviewAI. Esta prestará serviços de reconhecimento facial a perto de duas mil agências policiais e empresas privadas, como por exemplo os serviços de imigração dos EUA, terá acumulado uma base de dados quase sete vezes maior do que a do FBI, sendo acusada de ter armazenado ilegalmente dados de três mil milhões de pessoas sem o seu consentimento. Com base neste pressuposto, pede-se em tribunal que os dados sobre os californianos sejam apagados por violação da constituição estadual. “A Clearview forneceu a milhares de governos, agências governamentais e entidades privadas acesso à sua base de dados, que podem utilizar para identificar pessoas com visões dissidentes, monitorizar as suas associações e rastrear os seus discursos”, pode ler-se na peça jurídica.

Esta empresa em particular trata de recolher dados a partir de dezenas de páginas de Internet, entre as quais as principais redes sociais. A partir daí armazenam-se dados biométricos individuais, como por exemplo o formato e o tamanho dos olhos, que depois se disponibilizam numa base de dados para os “clientes”.

Abed Ayoub, diretor-executivo do Comité Americano-árabe anti-discriminação, diz que “é uma prática muito preocupante. Não sabemos quem são estes indivíduos ou o que estão a fazer com esta informação” e que “basicamente o governo está a externalizar a vigilância.”

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