O investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e atual deputado municipal João Moniz encabeça a lista do Bloco de Esquerda à Câmara de Aveiro. Para a Assembleia Municipal, a primeira candidata é a escritora técnica Ana Catarina Alves. O mote da candidatura do Bloco de Esquerda em Aveiro tem sido mostrar que é possível fazer política de forma diferente, recorrendo à evidência da vida das pessoas e das próprias políticas municipais. Na última década, praticamente não houve crescimento económico, mas a acumulação de riqueza por parte dos super-ricos foi exponencial. Se os grandes aumentaram a sua fatia de um bolo que não cresceu, isso reflete-se inevitavelmente no quotidiano da população: sobra-lhe uma parte cada vez mais pequena. É por isso que a casa, onde entraram os fundos de investimento, está mais cara, que a autarquia tem menos capacidade para garantir serviços públicos e que a fatura do supermercado consome uma parcela maior do salário.
As dificuldades da vida quotidiana não caíram do céu, são o resultado de escolhas políticas. Em Aveiro, PSD/CDS e PS têm seguido o mesmo modelo de desenvolvimento: unidos quando é preciso vender terrenos públicos para habitação privada de luxo e unidos no uso da despesa pública para promover a gentrificação. Já a extrema-direita apresenta-se a votos com um antigo quadro do CDS que partilhou este caminho em Aveiro. Um homem do sistema, ex-diretor de uma empresa municipal, cujo papel agora é o de garantir a sobrevivência desse mesmo sistema, apontando culpas aos mais fragilizados para proteger os de cima.
Mas a política pode ser diferente e a nossa vida pode ser melhor. As ideias prioritárias do Bloco de Esquerda em Aveiro são apresentadas de forma positiva e propositiva, mas, sobretudo, pela sua capacidade de se diferenciarem e de explicarem um outro paradigma. Procurou-se afirmar o universalismo de esquerda como modelo de sociedade alternativo ao do centrão e como resposta às políticas de ressentimento da extrema-direita, que se alimenta das políticas de remendo dirigidas aos despojados das opções do centrão. O eixo tático é mostrar um modelo alternativo de sociedade, um modelo em que a vida é melhor, sem hesitações na resposta imediata a esses despojados e no combate firme às políticas de ódio.
A grande prioridade é a construção de habitação pública para a classe média empobrecida num concelho onde apenas 2% do parque habitacional é público e onde nada se destina a esse segmento. O objetivo é duplicar essa oferta numa década, com a construção de 800 a 1.000 novos fogos, identificando terrenos e edifícios públicos, como o quartel da GNR e o antigo centro de saúde mental de São Bernardo, como locais prioritários para a edificação. O Bloco propõe ainda a aquisição ou expropriação dos 20 hectares a nascente da Avenida Sá Carneiro, atualmente usados para cultivo agrícola, para criar um novo bairro na cidade em que a prioridade é a habitação pública, amplos espaços de fruição comunitária e um grande parque verde no centro da cidade. A candidatura denunciou o desinteresse de PSD/CDS e PS nesta matéria, lembrando que, nos terrenos da antiga Luzostela, junto ao viaduto de Esgueira, foi anunciada habitação pública a concluir em 2025, mas onde ainda não existe um único tijolo. O Bloco de Esquerda assinalou este falhanço com uma inauguração simbólica.
A organização do território e da mobilidade é outra das grandes prioridades, com a proposta de remunicipalizar os transportes públicos e promover a sua gestão intermunicipal. O Bloco defende também a saída da atual empresa concessionária, ligada ao exército israelita, que explora parte da rede intermunicipal de autocarros. Os transportes públicos devem ser uma política emancipadora capaz de remover exclusões e de deixar mais dinheiro no bolso das pessoas ao fim do mês. Inclui a criação de um metro de superfície aproveitando igualmente a Linha do Vouga e a atual linha de mercadorias para o porto de Aveiro. Esta visão está associada a uma nova organização do território, centrada na retirada de automóveis dos centros urbanos, na promoção da mobilidade suave e na criação de espaços de comunidade com praças arborizadas em todas as freguesias. Um município com matriz diversificada, que reduza as deslocações e se adapte às alterações climáticas. O programa inclui ainda a criação de novos espaços verdes, a arborização de ruas e a constituição do Parque Natural da Ria de Aveiro, integrando a Ria, o rio Vouga, a Pateira e as dunas de São Jacinto.
A candidatura totalizou 11 debates e frentes-a-frentes aproveitando para discutir e apresentar um programa abrangente para todas as áreas de governação e afirmando-se como alternativa de governo. A candidatura do Bloco apresenta centenas de candidatos e candidatas, com listas à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e a nove das dez freguesias. A campanha esteve também bastante ativa nas redes sociais com a produção e publicação de vários vídeos temáticos com milhares de visualizações.
O objetivo inicial foi construir uma coligação de esquerda e progressista com o PCP, o Livre e o PAN. Contudo, essa convergência não foi possível, por decisão dos outros partidos, que optaram por concorrer isoladamente, sem esforço ou vontade de negociação para um caminho comum. Sem parceiros disponíveis para um caminho comum que pudesse valer mais do que a soma das partes, a candidatura do Bloco de Esquerda afirmou-se em campanha com uma capacidade e uma visibilidade claramente superiores às dos partidos contactados.
