Andrej Babiš venceu as últimas eleições na República Checa com 34,5% dos votos, derrotando o primeiro-ministro Petr Fiala, cuja coligação de direita Spolu se ficou pelos 23,4%. Sem maioria, já se encontrou com o presidente checo Petr Pavel e começou a negociar este domingo com outros partidos com vista à formação de um novo governo.
Descrito na imprensa mainstream como “populista de direita”, é admirador convicto de Trump, quer diminuir o apoio à Ucrânia e regressa agora ao poder depois de ter chefiado o governo entre 2017 e 2021 e de ter sido vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças entre 2014 e 2017.
Opositor acérrimo do Pacto Verde europeu e do pacto das migrações da União Europeia, Babiš prometeu que vai apresentar ao Presidente “uma solução que esteja em linha com as lei checas e europeias”. Este, por seu turno, disse depois do encontro entre os dois que não nomeará um novo governo até pelo menos novembro e insistiu numa “direção pró-ocidental” e na preservação de todas as instituições de um estado democrático”.
O partido vencedor das eleições, o ANO, está agora a negociar com duas outras forças de extrema-direita, nomeadamente os “Motoristas por eles próprios”, um partido anti-ambientalista que pertence ao mesmo grupo político europeu que o Chega, tal como o partido de Babiš aliás, e o “Liberdade e Democracia Direta” que pertence ao outro grupo de extrema-direita ao nível europeu e é considerado ainda mais extremista em questões de imigração, de oposição à Nato e mais pró-Putin do que estes seus dois rivais. Pavel, recorde-se, derrotou Babiš nas eleições presidenciais de 2023 e dissera anteriormente que não nomeará quaisquer ministros que queiram a saída da Nato ou da União Europeia, estreitando a margem negocial.
A extrema-direita europeia reagiu saudando a vitória eleitoral. Com o primeiro-ministro húngaro a escrever nas redes sociais que “a verdade prevaleceu” e a francesa Marine Le Pen que os “partidos patriotas” estavam a “ser chamados ao poder por toda a Europa”.
Quem saudou também o resultado foi o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, cujo partido acaba de ser expulso dos Partido dos Socialistas Europeus devido à sua viragem para o ultra-conservadorismo e à sua proximidade com Putin. O eslovaco reagiu à expulsão indicando que ficou “orgulhoso” dela.
Quem é Babiš?
Babiš tem 71 anos. E antes de ser um milionário de extrema-direita tinha sido, há muitos anos, um colaborador da StB, a polícia política do antigo regime da Checoslováquia. Em 2018, ficou provada em tribunal esta ligação. Era conhecido pelo nome de código “Bures”. Depois disso viveu no estrangeiro e voltou de Marrocos para a Checoslováquia em 1991, após a chamada “Revolução de Veludo”.
Engenheiro industrial de formação, em 1993 trabalhava na empresa estatal Petrimex quando esta fundou a Agrofert e o colocou à frente como administrador. Acabou por se tornar seu dono, não se sabendo como arranjou o dinheiro que lhe permitiu comprar a empresa. Esta tornou-se a maior empresa do agro-negócio checo. Agora tem um património líquido estimado em 4,2 mil milhões de dólares, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg. Isto faz dele o sétimo homem mais rico do seu país.
Detém muitos mais negócios mas o destaque vai para o império mediático que construiu a partir da Agrofert - que comprou a editora de dois dos maiores jornais checos, da operadora da estação de televisão Óčko e é dona da Radio Impuls, a estação de rádio mais ouvida no país.
Construindo a imagem de empresário de sucesso, promete “gerir o Estado como uma empresa”. Só que tudo isto levou o Presidente da República a declarar que vai analisar os possíveis conflitos de interesse que decorrem do facto de se tornar chefe do executivo, após ter claramente falhado a solução anterior para evitar interferências entre os seus interesses privados e o bem público. Babiš tinha transferido a propriedade da Agrofert (que entretanto recuperou) para fundos fiduciários em 2017, mas dois anos depois uma auditoria da Comissão Europeia concluiu que ele influenciava de maneira “direta” e “indireta” estes fundos fiduciários.
Como habitual na extrema-direita, Babiš faz campanha com uma retórica “anti-corrupção”. Mas foi demitido do governo em que era vice-primeiro-ministro por alegações de que evitou pagar impostos enquanto CEO da Agrofert em 2012. E, ao longo do primeiro mandato como primeiro-ministro, conseguiu esquivar-se de um caso em que a sua empresa foi acusada de receber subsídios da UE de forma fraudulenta. Terá recebido dois milhões de euros de fundos europeus que deveriam ser atribuídos a pequenas e médias empresas.
No seu governo anterior, aumentou a idade da reforma, cortou nas pensões e subiu nos salários dos políticos. O seu mandato coincidiu com a pandemia de Covid-19 e a sua gestão desta foi caótica. A Repúbica Checa chegou a ser o país europeu com a maior taxa de infeções da União Europeia, morreram no país perto de 35.000 pessoas e vacilou entre restrições criticadas como demasiado duras, o seu levantamento e uma política considerada laxista e depois o regresso a medidas mais restritivas.