A Conferência Episcopal da Alemanha lançou esta quinta-feira um apelo aos católicos do seu país para que travem a extrema-direita, considerando o “nacionalismo étnico” como “incompatível com a conceção cristã de Deus e do Homem”.
As palavras são do bispo Georg Bätzing, chefe desta Conferência Episcopal, e foram pronunciadas na sequência de uma reunião da instituição em Augsburg. No documento aprovado, acrescenta-se que “os partidos extremistas de direita e aqueles que proliferam nas margens dessa ideologia não podem, portanto, ser um local de atividade política para os cristãos e também não podem ser elegíveis”.
Para além disso, considera-se que “a participação em políticas de extrema direita – e particularmente qualquer forma de racismo ou antissemitismo – é incompatível com emprego ou serviço voluntário na Igreja Católica”.
O seu apelo é assim claro: “apelamos aos nossos concidadãos, inclusive àqueles que não compartilham da nossa fé, para que rejeitem e repudiem a política da extrema-direita. Qualquer pessoa que queira viver numa sociedade livre e democrática não pode abrigar estas ideias”.
Os bispos alemães entendem assim que é tempo de quebrar o seu tradicional silêncio sobre a política partidária numa altura em que a extrema-direita alemã, que atualmente tem 78 em 735 deputados, está em alta nas sondagens e que se aproximam eleições regionais em zonas que lhes são favoráveis, nomeadamente a Turíngia, a Saxónia e Brandeburgo.
Antes, em dezembro, também a Igreja Evangélica da Alemanha já tinha tomado posição semelhante declarando que a forma de agir da AfD “não éde forma alguma compatível com os princípios da fé cristã”.
AfD-Chega, a mesma luta
Em Portugal, a AfD, Alternativa para a Alemanha, mantém relações próximas com o Chega e são vários os momentos em que se cruzaram e os elogios que trocaram.
Por exemplo , o líder da extrema-direita portuguesa recebeu no Parlamento nacional em novembro de 2023 Tino Chrupalla (dirigente da AfD) e Marine Le Pen (da União Nacional francesa) tendo considerado estes “um excelente exemplo e uma honra para todo o partido”. Como o Expresso salientava na altura, o dirigente ultra-nacionalista veio ao nosso país apresentar a União Europeia como “um sorvedouro orçamental” que só prejudicaria os contribuintes alemães, concluindo o semanário “ora Portugal é um dos países mais beneficiados pelos fundos da coesão, mas Ventura não se pronunciou sobre este aspeto”.
E pouco antes, no verão do ano passado, André Ventura, num vídeo colocado pelo Chega no Youtube, mostrava-se orgulho a discursar no Congresso da AfD realizado em Magdeburgo, ao mesmo tempo que repetia o discurso de que se dá tudo aos migrantes e nada aos nacionais dos respetivos países, de que há mesquitas a mais e de que há “pornografia nas escolas”, assumindo-se como “radical” nestes assuntos.