Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária, defende que “a perceção de insegurança” é gerada pela “desinformação, fake news’ e ameaças híbridas”.
As suas declarações foram feitas esta sexta-feira numa conferência conferência sobre os 160 anos do Diário de Notícias intitulada “O Portugal que temos e o que queremos ter” em que sublinhou que “temos hoje vários canais de televisão que passam uma e outra vez aquilo que é notícia de um crime” e que isso acaba por “criar uma ideia de insegurança que não tem a ver com a insegurança plena do crime”.
Neves socorreu-se da comparação com o passado para provar o seu ponto, questionando: “alguém se recorda dos anos 80 e 90 do consumo de heroína em que não havia família que não tivesse um familiar que tivesse sofrido?” Ou os tempos em que Arroios e o Intendente eram zonas em “que não se poderia lá entrar?”, rematando “Querem comparar esses períodos com o período que hoje em que vivemos e dizer que hoje é que é mau?”
E comparou os números de 2009, quando houve 888 ataques a carrinhas de segurança e transportes de valores, bancos ou postos de combustíveis e os dados atuais quando “não temos 4% desses ataques” e o motivo para detenção mais comum é o furto simples e qualificado e a seguir a violência doméstica.
Não são os imigrantes que aumentam a criminalidade
O dirigente do corpo policial negou ainda que os estrangeiros sejam responsáveis por níveis relevantes de criminalidade.
Mais uma vez, regressou às estatísticas para se apoiar. “Em 2009 tínhamos 631 estrangeiros”, isto num universo de 400 mil imigrantes. Em 2024, há “120 pessoas de outros países que estão presas num universo de mais de 10 mil” detidos, quando o número de estrangeiros a viver no país será de perto de um milhão. Ou seja, o “rácio de detidos [estrangeiros] é o segundo mais baixo” desde que há estatísticas deste tipo.
Sobre os estrangeiros detidos, Luís Neves também desfez o mito de que se trata sobretudo de imigrantes. Explicou que “não são imigrantes” mas pessoas envolvidas em “organizações criminosas transnacionais, cibercrime ou estupefacientes” e “criminalidade contra o património”.
Para além disso, como o país é porta de entrada para a União Europeia, há pessoas que são detidas por tentativa de transporte de droga. São as chamadas “mulas”, “pessoas pobres” utilizadas por redes criminosas para fazer esse carregamento.
Sobre os imigrantes esclareceu igualmente que “muitas vezes” são “vítimas das garras dos traficantes de pessoas, dos tráficos de seres humanos, das organizações criminosas e da imigração ilegal”.