Itália

Dois milhões nas ruas, greve geral em solidariedade com flotilha foi um sucesso

03 de outubro 2025 - 16:38

Salvini tinha ameaçado os grevistas mas ainda assim não conseguiu travar um movimento de solidariedade inédito.

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Greve geral em Itália.
Greve geral em Itália. Foto da CGIL.

Um “sucesso” foi assim que os organizadores da greve geral desta sexta-feira em Itália a caracterizaram. Esta fora convocada por vários sindicatos italianos em solidariedade com a Flotilha humanitária para Gaza intercetada violentamente pelas forças armadas israelitas, mas também em defesa “dos valores constitucionais, para impedir o genocídio e em apoio do povo de Gaza”.

Para além das paralisações, marchas gigantescas que se prolongaram durante quilómetros ocorreram nas maiores cidades do país. Estimativas mais conservadoras apontavam para que tivessem estado um milhão de pessoas nas ruas. De acordo com a Reuters, só em Roma teriam sido mais de 300.000, em Milão mais de 100.000, em Nápoles 50.000, em Veneza 25.000, nas cidades sicilianas mais de 150.000. E os protestos estenderam-se por mais de cem cidades.

Esta greve ocorreu apesar de ter sido declarada ilegal pelo organismo que supervisiona estas ações que considerou que o pré-aviso de greve não teria sido atempado. A CGIL, a principal central sindical do país e uma das que convocou o protesto, contrapõe que a greve tinha toda a legitimidade e apresentou recurso.

A estrutura sindical avançou que mais de dois milhões de pessoas saíram às ruas neste dia e que a adesão geral à greve foi de 60%.

Matteo Salvini, o vice-primeiro-ministro e ministro de transportes da extrema-direita, ameaçou grevistas e dirigentes: “aqueles que estão em greve hoje sabem que estão a ir contra a lei e correm o risco de sanções tanto a nível pessoal como organizações laborais”. Do seu ponto de vista, “se hoje aqueles que fazem greve ilegalmente causam milhares de milhões de euros em danos à economia italiana… então as sanções devem ser proporcionais aos danos causados.”

Já a chefe de governo, Meloni, sua rival no campo político da extrema-direita, preferiu tentar desvalorizar o sucedido, ironizando que greve teria sido apenas uma desculpa para um fim de semana prolongado, dizendo que “fins de semana prolongados e revoluções não combinam”.

Maurizio Landini, dirigente da CGIL, responde que “esta não é uma greve qualquer. Estivemos aqui hoje a defender a fraternidade entre indivíduos, entre povos, para colocar a humanidade no centro, dizer não ao genocídio, a uma política de rearmamento”. Para além disso, “a participação extraordinária e sem precedentes dos jovens, que reivindicam um futuro de paz e justiça social, com emprego estável e combate à precariedade”.

Do lado político-partidário toda a esquerda marcou presença. Com Elly Schlein, líder do Partido Democrático, de centro-esquerda e que conta com dois deputados na flotilha, a dizer que foi “um dia bonito de mobilização e de ação grevista com um nível elevado de participação que mostra que a Itália é melhor do que aqueles que a governam”.

Houve ainda bloqueios de estações de comboios e de algumas estradas em várias partes de Itália. O acesso ao porto de Livorno foi bloqueado e o porto de Nápoles também o foi. Assim como a pista do aeroporto de Pisa. A polícia recorreu a canhões de água e gás lacrimogéneo em várias situações.