António Lima, advogado e dirigente local do Bloco de Esquerda (BE) é o cabeça de lista à Câmara Municipal, em Braga. As prioridades desta candidatura são a habitação, no concelho que mais cresceu em população nos últimos anos, a mobilidade, numa cidade onde o congestionamento automóvel é crescente e o ambiente, num concelho onde a poluição do ar e os níveis do ruído afetam a saúde dos munícipes.
O mote desta candidatura é Fazer Cidade, o que significa a defesa da auscultação dos munícipes antes de tomar decisões e apelar à participação cidadã, isto é, não decidir contra a vontade dos cidadãos para defender grupos económicos ou imobiliários.
Braga ainda só conta com dois presidentes, Mesquita Machado e Ricardo Rio, e ambos governaram com maioria absoluta. Ao crescimento sem planeamento, juntou-se a especulação imobiliária e os interesses económicos que adiaram um concelho onde é urgente melhorar a vida de quem aqui vive. Em 2025, os eleitores serão chamados a escolher o terceiro presidente entre dez candidatos.
Há um ano, a Comissão Coordenadora Distrital de Braga do Bloco de Esquerda encetou contactos para desenhar possíveis coligações nos concelhos do distrito de Braga, que não foram bem-sucedidos. Sendo as autárquicas eleições locais , deveriam ser as direções concelhias a iniciar os contactos com eventuais parceiros de coligação e, numa fase posterior, passar à aprovação distrital, como se fez, por exemplo, no concelho de Lisboa.
Dos contactos efetuados, resultaram sucessivos impasses, ora por questões de organização interna dos partidos à esquerda, ora pelos resultados eleitorais pouco favoráveis ao BE. Por seu lado, o PCP manteve-se irredutível naquilo que chama coligação CDU que junta o PCP e os Verdes, tendo sugerido que os candidatos do Bloco de Esquerda integrassem as suas listas como independentes.
Os impasses criados e arrastados no tempo levaram a Comissão Coordenadora Concelhia a apresentar uma candidatura própria. À direita já se perfilava a coligação “Juntos por Braga” liderada por João Rodrigues, atual vereador do urbanismo e que apresenta ligações, cujo alcance ainda estão por apurar, à empresa Spinumviva. Já Ricardo Silva, que já pertenceu à coligação e é presidente de Junta de S. Vítor, uma das freguesias mais populosas do país, há muito tempo que tem vindo a preparar uma candidatura independente. A Iniciativa Liberal decidiu apresentar Rui Rocha, bracarense e antigo líder do partido, como cabeça de lista à Câmara Municipal. Já o partido de extrema-direita apresenta o bracarense Filipe Aguiar. À direita há ainda mais duas candidaturas, que surgiram na última hora, uma do Movimento Partido da Terra, com Hugo Varandas, que se assume católico e monárquico, e uma do ADN, liderada por Francisco Torres, empresário do setor motociclista.
À esquerda, a coligação Somos Braga integra o PS, cujo candidato é António Braga, ex-vereador de Mesquita Machado, ex-secretário de Estado e apenas o PAN integra esta coligação. Carlos Fragoso, professor, lidera a candidatura à Câmara pelo Livre, o engenheiro e deputado municipal João Baptista encabeça a lista da CDU e António Lima, bracarense, advogado e dirigente local, apresenta-se pelo Bloco de Esquerda.
Autárquicas
Bloco integra 22 coligações e apresenta listas próprias em 63 concelhos
Direita quer regresso da gestão privada ao Hospital de Braga
Os programas dos partidos ou coligações à direita não apresentam diferenças assinaláveis entre si, com a Iniciativa Liberal a ter como slogan de campanha tornar Braga a capital do Norte. Todos defendem a parceria público-privada para o Hospital de Braga e não apresentam medidas para melhorar a vida quotidiana dos bracarenses, a não ser mais construção para responder ao problema da habitação e mais estradas para facilitar a circulação automóvel, mas sem propostas para os problemas de mobilidade e ambiental a elas associados.
Já a esquerda tem em comum o princípio da defesa de empresa pública para o Hospital de Braga, mas será este o único ponto convergente, com algumas aproximações noutros. Um dos exemplos é a necessidade de articular os movimentos pendulares entre os concelhos, sobretudo a norte do concelho de Braga, defendendo o Bloco que essa articulação deve ter por base o transporte coletivo e público e que as estruturas intermunicipais não estão a ser capazes de resolver este problema, o que obriga a trazer para cima da mesa o tema da regionalização, defendida por António Lima.

Os temas dos debates de pré-campanha
Nos inúmeros debates que existiram na pré-campanha, e nunca houve tantos, os temas habitação, mobilidade e Hospital foram recorrentes. Ainda faltam realizar dois na última semana de campanha onde se espera que outros temas sejam abordados.
Questões essenciais como a melhoria dos transportes coletivos, com corredores dedicados, o incremento da mobilidade suave, passeios e atravessamentos seguros para peões, limites de 30 km por hora no casco urbano (algo que o BE defende desde 2017), num concelho onde a cada três dias há um atropelamento, só foram levantadas por António Lima, que tem destacado que estes problemas exigem solução imediata.
Sobre a habitação, todos os partidos defendem mais construção, sendo que o aumento da habitação pública, construção a preços controlados e a disponibilização de bolsas de terrenos públicos para construção e apoio às cooperativas de habitação são defendidas por António Lima. Em Braga, a habitação pública não chega a 1% e o Bloco propõe a construção de 1350 fogos, o que permitirá alcançar os 2% da média nacional.

As questões ambientais, quer as resultantes do excesso de automóveis, que aumenta os níveis de poluição do ar e sonora para patamares alarmantes, quer as resultantes do plantio em monocultura de eucalipto nos montes que rodeiam a cidade não são preocupações da direita e até mesmo da coligação Somos Braga. Passados sete anos depois dos trágicos incêndios nos Sacromontes (Falperra, Sameiro e Bom Jesus), que ameaçou habitações, o coberto vegetal continua a ser o mesmo: pouco mais do que eucaliptos. Os donos destes terrenos, bem conhecidos, não foram responsabilizados nem instados a reflorestar com arvoredo autóctone e a ameaça está iminente.
O mesmo se poderá dizer quanto aos direitos humanos, à questão da imigração, a violência contra as mulheres, que continua preocupante no concelho, os cuidados de saúde primários, a criação e o acesso à cultura, que são considerados temas secundários ou até mesmo irrelevantes pelos principais protagonistas, mas estão explanados no programa eleitoral do BE.
O concelho de Braga foi o que mais cresceu em termos relativos quanto ao número de habitantes. Tem problemas graves de habitação, com várias famílias a viver num apartamento ou até em automóveis, a vida quotidiana na cidade é caótica, as ondas de calor desesperam, o número de pessoas sem-abrigo tem vindo a aumentar, há fome na cidade, escasseiam as zonas verdes, os transportes coletivos são de fraca qualidade, escassos e raramente cumprem horários, em permanente conflito com milhares de automóveis que entram e se amontoam diariamente na cidade. Há, pois muito a fazer, e já, diz António Lima, que defende o mote da campanha “Fazer Cidade”, com as pessoas e para as pessoas, e propõe no seu programa medidas imediatas para resolver as questões urgentes eternamente adiadas.