Legislativas 2025

“A escola é muito mais que as suas paredes”. Mariana visita Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves

05 de maio 2025 - 17:46

Mariana Mortágua e Carolina Serrão visitam agrupamento de escolas para dar destaque ao tema da educação. Investimento no ensino público, adaptação à educação multicultural e soluções sobre smartphones foram temas de discussão.

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Visita agrupamento escolar
Fotografia de Ana Mendes.

“É uma situação que nos deixa preocupados”, admite Vasco Gonçalves, diretor do agrupamento de escolas Nuno Gonçalves. As obras de um condomínio de luxo vizinho da Escola Básica Natália Correia obrigaram o estabelecimento de ensino a encerrar, e os alunos tiveram de passar a ter aulas na Escola Secundária Luísa Gusmão. Por isso, esta segunda-feira a coordenadora do Bloco de Esquerda visitou a Escola Básica 2 e 3 de Nuno Gonçalves para falar com o diretor do agrupamento e com as associações de pais.

Apesar de a educação ser um tema que tem ficado de fora dos debates para as eleições legislativas, o Bloco de Esquerda faz questão de manter o tema como uma prioridade, especialmente numa altura em que os serviços públicos estão sobre ataque e em que a extrema-direita usa a imigração como bode expiatório para todos os problemas. Na escola, essas duas narrativas cruzam-se, e a dirigente bloquista diz que “as escolas enfrentam grandes desafios, que têm a ver com as suas infraestruturas, com o investimento nas escolas”.

É o caso do Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves, precisamente porque a Escola Básica Natália Correia se mantém fechada e quem sofre são os alunos, os encarregados de educação, auxiliares e professores.

“Uma parte do edificado deste agrupamento é muito antigo” e “por causa de dois edifícios vendidos pela Câmara Municipal de Lisboa, que estão a ser convertidos em condomínios de luxo, uma parte da escola foi danificada e as crianças andam um pouco em bolandas, sem saber como será a partir do verão”, lamentou a dirigente bloquista.

Mariana Mortágua em visita a escola
Fotografia de Ana Mendes.

Em breve, os alunos da Escola Secundária Luísa Gusmão vão entrar em época de exames nacionais, e isso cria um problema para as crianças da Escola Básica Natália Correia que lá estão neste momento a ter aulas, de forma temporária. Vasco Gonçalves diz que “os alunos de secundário precisam de calma nesse momento” e avisa que “em Junho, tudo se vai precipitar”

“Há um conjunto de reuniões a ser tidas pelas partes envolvidas”, admite o diretor do agrupamento. Também com os promotores dos condomínios de luxo cujas obras danificaram a Escola Básica Natália Correia, mas as soluções são lentas.

Ricardo Rodrigues, da Associação de Encarregados de Educação da Escola Básica Natália Correia, salienta ao Esquerda.net que os pais estão “obviamente preocupados” com esta situação. “Queremos que as nossas crianças voltem à sua escola, é a sua casa”, diz, salientando o trabalho do corpo docente “que também está a fazer estes saltos de um lado para o outro”.

“Vai haver uma situação provisória com monoblocos enquanto a Natália Correia não for reparada”, diz o encarregado de educação. Há até a possibilidade de as crianças saírem do ciclo sem poderem regressar à escola onde começaram. “Seria uma situação que fecha um ciclo de forma instável”.

Carolina Serrão, a candidata do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Lisboa nas eleições autárquicas, também participou na visita e na reunião com o diretor do agrupamento. Ao Esquerda.net, a candidata diz que a solução para a Escola Básica Natália Correia tem de ser cobrada aos promotores dos condomínios, cujas obras danificaram o edificado da escola. Mas “também é preciso arranjar uma resposta temporária de emergência, para que os alunos e alunas não fiquem prejudicadas. Nem as da escola Luís Gusmão, nem as da escola Natália Correia”.

Um exemplo de educação multicultural

Mariana Mortágua percorre a escola e o recreio, visita as salas de aula, o gabinete de apoio aos alunos, a sala de professores e termina a visita na biblioteca, que também serve de espaço de ensaio para o ensino musical da escola. Ao seu lado, Vasco Gonçalves explica que a música é uma das formas de integração de muitos estudantes que ali estudam. A escola tem alunos de 55 nacionalidades diferentes, e é um exemplo de integração de alunos migrantes.

Ao fundo da biblioteca uma bateria, um piano, várias guitarras. “Há alunos do Bangladeche a aprender a tocar piano, também é uma forma de integração que ajuda com a língua”, diz o diretor do agrupamento. “É uma língua bonita”, responde a coordenadora do Bloco de Esquerda.

“Este encontro também é importante para falarmos com professores e auxiliares sobre quais são os desafios [da inclusão na educação] e como é que os podemos ultrapassar”, diz a dirigente bloquista. “O ensino da língua portuguesa não materna tem de ser reforçado nas escolas, porque é uma parte essencial da integração”.

Mariana Mortágua em visita a escola
Fotografia de Ana Mendes.

De facto, Vasco Gonçalves salienta que quanto mais velhos forem os alunos, mais difícil é a aprendizagem da língua. “No secundário, com a complexidade das matérias, é um grande desafio”, explica. Para ajudar nessa tarefa, “são precisos mais mediadores culturais e linguísticos, para que possam ajudar na integração destas crianças e formas pedagógicas diferentes”, defende Mariana Mortágua.

Ao Esquerda.net, o diretor do agrupamento salienta que uma adaptação a uma maior multiculturalidade “dá trabalho”. O bom exemplo da Escola Básica Nuno Gonçalves é construído por isso com muita atenção e empenho.

Aos assistentes operacionais, surgem desafios relacionados com as barreiras linguísticas e o funcionamento das escolas. “Necessitam de perceber os alunos”, de conseguir dar direções, explicar onde são os serviços, como funcionam as coisas, explica.

“Dá também trabalho aos professores, porque são realidades diferentes. Se forem 5% de alunos estrangeiros ou 20%, é preciso arranjar novas estratégias pedagógicas”, explica Vasco Gonçalves. “Há uma necessidade de adaptação e de adquirir informação para saber lidar com isto tudo”.

E à estrutura de direção compete uma nova noção de organização. “Os processos de matrícula, a noção de escolaridade obrigatória, os processos a funcionar” são novas realidades. “É preciso fazer um trabalho”, salienta o diretor do agrupamento. “É uma responsabilidade partilhada por todos os envolvidos na comunidade escolar”, conclui.

A educação e os smartphones

Outro dos temas que a visita à escola suscitou foi sobre o uso de smartphones no contexto escolar, nos recreios e nas aulas. Mariana Mortágua salienta que é um tema que precisa de continuar a ser debatido e lembra que o Bloco de Esquerda defende restrições ao uso do telemóvel, sobretudo em idades mais novas.

“O mais importante é falar com os professores, com os alunos e com os pais. Para  os próprios alunos dizerem o que acham sobre isso”, diz a dirigente do partido. “Não podemos é achar que resolvemos o problema de redes sociais desreguladas e o problema de redes sociais aditivas com uma agenda proibicionista. Tem de ser atacado de ambos os lados e tem de ser discutido enquanto sociedade”.

Na perspetiva do Bloco de Esquerda, as eventuais restrições só se aplicariam a crianças muito novas, porque “não podemos infantilizar os mais velhos”. A coordenadora do Bloco de Esquerda salienta que o debate sobre as redes sociais acontece a nível da sociedade e por isso as escolas também são envolvidas nesse debate. “O que nós precisamos é de mostrar bons exemplos e mostrar que a educação tem de ser acarinhada”, conclui.

Mariana Mortágua em visita a escola
Fotografia de Ana Mendes.

No agrupamento de escolas Nuno Gonçalves, o tema dos telemóveis também tem sido discutido e a direção tem uma resposta em prática. Vasco Gonçalves explica que para já, a perspetiva é “não proibir, mas dar ofertas”. Isto é, oferecer mais atividades que possam entreter os alunos durante os recreios, para que não passem os momentos de pausa ao telemóvel.

“Sinto que não tenho ao meu alcance tudo o que queria para dar mais oferta, seja xadrez e atividades desportivas durante os recreios, como jogos e atividades tradicionais”, diz o diretor do agrupamento. “A nossa luta relativamente ao uso abusivo do telemóvel é dar, na medida do possível, mais oferta. Os alunos têm de sentir que não querem usar o telemóvel porque vão participar nesta ou naquela atividade”. Mas Vasco Gonçalves admite “partir para uma noção de proibição quando sentir que disponibilizámos um conjunto de atividades e mesmo assim não funcionaram”.