Autárquicas 2025

“Os de fora que vêm viver para o Porto são os que foram expulsos da cidade”

22 de setembro 2025 - 11:49

No debate televisivo entre candidatos à Câmara, Sérgio Aires criticou o modelo de cidade gentrificada do PSD, cujo candidato diz que a cidade “não deve ter mais gente”.

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Sérgio Aires e Pedro Duarte no debate na SIC
Sérgio Aires e Pedro Duarte no debate na SIC

Cinco candidatos à Câmara do Porto participaram no debate organizado pela SIC na noite de domingo. O grande ausente foi o atual vice-presidente da gestão de Rui Moreira, Filipe Araújo, cuja exclusão foi lamentada pelo candidato independente da lista do Bloco de Esquerda. “Seria muito importante como legítimo herdeiro daquilo que foram 12 anos de Rui Moreira à frente da Câmara, que o pudéssemos confrontar com esses 12 anos”, afirmou Sérgio Aires na sua abertura  do debate.

O atual vereador independente eleito pelo Bloco diz que esta “vai ser uma eleição muito diferente da anterior”, até pela quantidade de candidatos que se apresentam. Mas acredita que a confiança que o eleitorado lhe deu há quatro anos será renovada a 12 de outubro: “Sou independente, esta candidatura tem oito independentes nos primeiros dez candidatos, é uma candidatura que não tendo conseguido uma coligação à esquerda tentou mobilizar as pessoas da cidade” para um projeto participado.

Questionado pela moderadora Nelma Serpa Pinto sobre a meta de fazer aumentar em sete mil casas a fatia de habitação pública no Porto, um número que mais nenhuma candidatura propõe nesta eleição, Sérgio Aires respondeu que isso “pode parecer muito, mas não é”. “Temos 10% de habitação pública no Porto, queremos 15%”, prosseguiu o candidato do Bloco, lembrando que haverá fundos europeus  para o financiar e isso vai no sentido das recomendações do relatório da Comissão Europeia que está prestes a ser aprovado para implementação nos estados-membro.

“Se a prioridade é a habitação como todos dizem, os recursos devem ser orientados para aí”, defendeu Sérgio Aires, recordando que “a emergência da habitação não é de 2025 nem sequer de 2021”, e que se agravou nos últimos quatro anos “porque não se fez nada”. Por exemplo, ficaram vazios os concursos para construção em regime de parceria público-privada “muito parecidos com os que Manuel Pizarro apresenta e até mais favoráveis aos privados”.

Sérgio Aires acredita que “o Porto tinha tido hipótese de controlar os preços” durante os mandatos de Rui Moreira, tendo em conta que a soma da receita de IMT e IMI foi de cerca de “mil milhões de euros em 12 anos, tanto como o PRR”.

O candidato do PSD e ex-ministro Pedro Duarte defendeu que o Porto "não deve ter mais gente", opondo-se a nova construção e defendendo a recuperação de 20 mil casas desabitadas. Sérgio Aires respondeu-lhe que “os de fora que vêm viver para o Porto são os que foram expulsos da cidade e continuam a trabalhar na cidade”.

“A cidade foi gentrificada, a questão é que o PSD gosta. É este o modelo de cidade que quer: uma cidade elitista e que os pobres não vivam na cidade. A partir daí, eu percebo que a cidade tenha de ter cada vez menos habitantes porque cada vez há menos ricos”, ironizou.

“O grande crime na cidade é o crime rodoviário, de que ninguém fala”

O debate serviu para confrontar posições sobre a segurança na cidade, com Sérgio Aires a defender que “a perceção de insegurança tem sido trabalhada para criar um alarme: em 2012 tínhamos 68.5 crimes por mil habitantes, temos agora 59.9. E não vi em 2012 ninguém rasgar as vestes por causa da insegurança na cidade às portas das eleições que Rui Moreira ganhou”.

Ao alimentar esta perceção de insegurança, as candidaturas da direita estão “a assustar as pessoas, elas estão a abandonar o espaço público e a sentir-se realmente inseguras quando essa insegurança não se traduz em números”, apontou Sérgio Aires, dirigindo-se ao candidato do PSD e ao do Chega, ex-autarca do PSD na cidade: “o conhecimento é muito aborrecido quando não nos dá razão”.

Sobre a questão dos “100 polícias municipais que estão prometidos há dois anos e não vêm”, Sérgio Aires explicou que isso só acontece porque “as pessoas não querem trabalhar com aquelas condições e aqueles salários”. e que “é preciso ter em consideração a precariedade deste trabalho e o desrespeito por este trabalho que é tão importante”. Como o PS e PSD “não fizeram nada por este assunto ao nível central”, o candidato do Bloco acusou-os de estarem neste debate “e parece que não têm nenhuma responsabilidade”. Por fim, destacou o aumento de “uma criminalidade muito normal em cidades que têm o turismo do Porto, mas o grande crime na cidade é o crime rodoviário, de que ninguém fala”.

PSD “tirou 10 quilómetros de faixas bus que nunca mais foram repostas”

No tema dos transportes, os congestionamentos na Via de Cintura Interna são presença assídua nestes debates há muitos anos, tal como a defesa do fim das portagens na A41 para desviar para lá o trânsito pesado. Mas “PS e PSD nunca quiseram desportajar a A41 e ficamos ali com um tampão”, resumiu Sérgio Aires. Quanto às soluções de mobilidade, defendeu que elas passam por uma progressiva gratuitidade dos transportes públicos e a “confiabilidade”, ou seja, chegarem a horas, terem qualidade e capacidade de circulação. O candidato recordou que a gestão autárquica do PSD de Rui Rio “tirou 10 quilómetros de faixas bus que nunca mais foram repostas. E sem faixas bus para os transportes circularem, é evidente que eles se atrasam”.

Sérgio Aires defendeu ainda que “não faz sentido nenhum” tirar o mercado abastecedor de onde ele se encontra, sobretudo quando essa proposta é apresentada para retirar trânsito da VCI. Invocando o seu direito a ter também uma “perceção”, Sérgio Aires calcula que “nem 1% dos camiões da VCI vão para o mercado abastecedor”.

No que diz respeito ao polémico projeto do Metrobus, que nunca gerou consenso, Sérgio Aires defende a entrada imediata em funcionamento “e acabar com esta novela”, pois “a partir do momento em que foi aprovado, temos de ser sérios com os portuenses e os nossos impostos: se avançou, construa-se”. Aos que querem agora mudar de opinião e mudar o projeto, o candidato responde que “a cidade não suporta este cinismo”.